Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 8 de março de 2017

Lugar de mulher 

Martha Medeiros


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Ou muito me engano, ou as mulheres estão se reproduzindo feito coelhas. Temos irrompido em bando. É muita mulher no mundo. É mulher para tudo que é canto. Uma ocupação epidêmica.

Alguém irá lembrar que não são tantas assim atuando na política, e tem razão – ainda não somos muitas em plenário –, mas tampouco somos maioria apenas em academias de ginástica e salões de beleza. Estamos espalhadas por todos os lugares que interessam, principalmente em ambientes que envolvem arte, cultura, reflexão, conhecimento.

Num espetáculo de teatro, pode reparar: na plateia, só dá mulher. São 10 para cada homem – e acho que estou exagerando na condescendência, talvez sejam 15 para cada um deles.

Dentro de um cinema, a diferença diminui, mas ainda estamos em maior número (outro dia ouvi uma explicação peculiar: é que mulheres vão umas com as outras ao cinema sem nenhum constrangimento, enquanto que um homem não pode convidar um amigo porque pensarão que ele é veado – não é uma sociedade evoluída a nossa?).

Em exposições: mais mulheres, todas absorvendo novidades. Em saraus: mais mulheres, todas escutando poesia. Em palestras de filósofos, escritores, humanistas: mais mulheres, todas de ouvidos atentos.

Em shows: o número tende a se equilibrar, mas ainda mais mulheres. Dentro de livrarias: mulheres lendo, publicando, dilatando o intelecto.

Ganhamos menos do que os homens, e mesmo assim reservamos parte do nosso salário (quando é possível) para atender às demandas da nossa sensibilidade, a fim de termos uma existência mais rica, mais estimulante.

Agora adivinhe quem lota as cadeiras de bares e botecos: mulheres, claro. Depois de ir ao teatro, ao cinema, à palestra, voltar pra casa? Teria graça. Bora conversar umas com as outras sobre tudo o que foi visto, de preferência com um cálice de vinho ou um chope gelado em mãos.

Em substituição ao obsoleto “lugar de mulher é na cozinha”, surgiu o libertário “lugar de mulher é onde ela quiser”. Mas tem que querer mesmo. Ainda há quem se acomode num confinamento providencial (um casamento careta, uma religião limitadora, um martírio inventado, umas dores lombares) a fim de declarar-se impedida de ser livre.

Cada um sabe de si. Ninguém é obrigado a realizar desejos que não tem. Mas pra quem não cansa de expandir-se, a programação é vasta e é proibido bobear. De tudo o que temos aprendido fora de casa, viver com sabedoria tem sido a melhor lição.

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