A paixão por automóvel é uma tônica para muita gente, principalmente a partir de quando a Fórmula Um se tornou idolatria no Brasil com o desempenho fantástico de Ayrton Senna, Piquet, etc.
Minha admiração por automóveis começou quando eu era criança, na Cajazeiras de poucos automóveis, e por aí parou. Hoje, pra mim, automóvel é utilidade, sem os exageros dos deslumbrados por automóveis.
Em Cajazeiras admirava-me ver o aero willys da professora de português, Miriam Cavalcanti, irmã de Zé Cavalcanti, proprietário da concessionária Ford. Era da cor preta, com frizo prateado nas laterais. Dirigida por Miriam a aero willys ficava mais charmosa ainda. Uma mulher dirigindo aquele carro dava um novo charme. A própria elegância da competente mestre Miriam Cavalcanti amplificava a dimensão estética do carro de passeio. Era assim que a gente falava: “carro de passeio”, tendo em vista que automóveis pesados, como caminhonetes e caminhões eram carros do trabalho, do pesado.
Essa aero willys tinha a imponência da própria Miriam Cavalcanti. Pelo meu olhar infante Miriam era a primeira mulher de Cajazeiras a dirigir um carro. E ela dirigia com muita experiência. Era uma craque do volante. O jeito dela entrar no Dom Moiséis Coelho, onde dava aulas, passando pelo portão de entrada como se tivesse duas balizas e estivesse de olhos vendados – são os exageros da imaginação infantil -, fazia-nos, petizada, ficarmos de boca aberta com sua agilidade ao volante. Era como se ela fosse, hoje, uma piloto de Fómula Um.
A charrete – que era uma mistura de mini-caminhão com caminhonete - de Teotônio, o maior mecânico de então em Cajazeiras, era de enlouquecer qualquer criança. Enlouquecia porque Teotônio fez um negócio em sua charrete que prendia a atenção de qualquer criança. Usou a música no lugar da buzina tradicional. Com muita criatividade ele adaptou a introdução da música A Banda, de Chico Buarque de Holanda, que saía de três cornetinhas que ficavam na franja da boléia de sua charrete. Como Lavoisier, seu filho, que quando era goleiro dava pulos rasantes e espetaculares para buscar a bola na lateral da trave, sendo que um pulo simples a alcançaria, seu pai também dava uma buzinada de propósito para encantar a todos com a sonora musicalidade criada por Chico Buarque em “estava à toa na vida e meu amor me chamou!”. Irresistível não prestar atenção naquela charrete bem zelada, toda limpinha, brilhando, caprichada em todos os detalhes. É bom frisar o bom gosto musical de Teotônio em escolher A Banda, de Chico Buarque.
Parece que era de família, pois outro carro de deixar todo mundo babando, era o gordini de Dedé, filho de Teotônio, mencionado no parágrafo acima. Azul, sempre brilhando, sempre limpinho, antena levantada, protetor de chuva nos vidros das portas quando levantados, lameiras, faixas brancas nos pneus, capa no volante, estofamento impecável... Era o carro dos sonhos de qualquer playboy. Mas Dedé não era um playboy, mesmo tendo toda pinta. Dedé era um excelente mecânico, admirado por todos, como seu pai. Dedé também era um exímio tocador de tarol na banda do Colégio Estadual nos desfiles de sete de setembro. Sabia rufar como poucos. Mas seu gordini era o sonho de todo rapaz cajazeirense em possuí-lo para conquistar as garotas. O gordini de Dedé era uma menina linda a desfilar pelas ruas de Cajazeiras, na mais pura expressão da verdade automobilística.
Os caminhões-misto que ficavam estacionados ao lado da calçada da casa de Sinval do Vale, na Praça do Espinho, em dias de feiras, também me causavam impressão. Não exclusivamente pelo seu design, mas pelo seu projeto como um todo. Pela utilidade, como seu próprio nome fala, misto em carregar bagagens e passageiros. Seus pneus grandes, seus feixes de molas expostos, sua lameira enorme com um desenho de paisagem rural e uma frase graciosa, e sua cabina com três bancos comprido em cima era bagageiro.
Andei muito de caminhão-misto viajando para o Sítio Rita, terra de meus pais, município de Monte Horebe, nos períodos de férias escolares. Saíamos aos sábados por volta de quatro horas da tarde – eu e meus irmãos - de Cajazeiras, no caminhão-misto carregado de mantimentos escassos na roça, passando por Jatobá, hoje São José de Piranhas, e subíamos a serra até o sítio, onde um tio ou tia nos esperava a beira da estrada. Na volta das férias descíamos a serra de Horebe nos mistos carregados de sacas de feijão, milho, frutas e farinha que abasteciam o mercado de Cajazeiras. O caminhão vinha lotado. Saíamos de madrugada para chegarmos antes das sete horas com a feira começando sua ebulição. Os beradeiros, e nós, vínhamos em cima da carga de cereais, onde se bufava, peidava em cima das sacas de farinha, feijão e milho. Vínhamos apostando quem via mais jumento de cada lado da estrada. Nossa grande alegria era quando o caminhão-misto estava chegando próximo à Cajazeiras e avistávamos a torre da Catedral. Era uma sensação gostosa de retorno ao seu torrão natal vendo os buracos da torre da Catedral. Não havia ainda o relógio.
Outros tantos automóveis alimentavam meu visual de criança, com certeza, mas não sei precisar seus donos, como um cinca de cor coral, dkw vemag, corcel, jeep 45...
Eduardo Pereira
Nos saudosos tempos de Cajazeiras, lembro-me de dois carros que enchiam os olhos:
ResponderExcluiro Aero-Willys de papai e um Simca de Chico Cartaxo (pai da Clênia)
É verdade, cara, como esqueci o Aero-Willys de Chico Rolim! Bem, a verdade é que esse automóvel era o chique, não era pra qualquer um, não! A falha está corrigida. Obrigado, Claudiomar.
ResponderExcluirEduardo Pereira.
Caro Eduardo,
ResponderExcluirSe não me falha a memória este Caminhão Misto Chevrolet, 1958, cor verde e branco, era de Titico Cruz.
Forte abraço, Bira.
Caro Bira,
ResponderExcluirVocê avivou minha memória. Era a esse Caminhão Misto mesmo que eu queria me referir.
É isso aí.
Os amigos aí estão esquecendo de um outro automóvel. o "rabo de peixe" de João Claudino.
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