Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Vai, Ademir! ser gauche na vida.

 
Ademir Assunção


Nunca fui um bom marqueteiro. Especialmente de mim mesmo. Nunca me preocupei em me promover. Meu tesão sempre foi escrever. Pesquisar, conversar com pessoas, observar e escrever, escrever, escrever. Com o máximo de eletricidade possível. Mas, irmãozinho, receber um bilhete desses, quando ainda se está no início do caminho, é uma dose de adrenalina pura.


Desde os 16 anos eu escrevia para jornais. Comecei por puro acaso, a convite de um amigo, Anael Aquino, nas páginas do provinciano jornal O Imparcial (ó o nome), de Araraquara. Descobri que era o meu barato, fui estudar jornalismo em Londrina e me tornei profissional aos 21 anos. Quando fui contratado pela Folha de Londrina, seis meses antes de terminar o curso na universidade, entrei em campo com vontade de jogar. Havia espaço para desenvolver um futebol bonito - se é que me entendem.

Era começo da abertura democrática no Brasil. Tudo estava mudando. Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção estavam virando a música brasileira de cabeça pra baixo. William Burroughs, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso estavam sendo traduzidos. Os discos de Frank Zappa, Laurie Anderson, Sex Pistols, Rolling Stones circulavam com um pouco mais de facilidade. Angeli, Laerte e Glauco davam uma nova cara às tiras publicadas nos jornais. Os poetas concretos nutriam a rapaziada com comida de alto nível: Pound, cummings, Arnaut Daniel, Gertrude Stein, John Donne. Os livros de Caio Fernando Abreu, Marcia Denser, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Sebastião Nunes, Roberto Piva, Chacal, Reinaldo Moraes tocavam mais de perto a sensibilidade da rapaziada que estava entrando em campo naquele momento. Torquato Neto era meu guia no jornalismo. Queria escrever com a mesma eletricidade com que ele havia escrito.

Tudo aconteceu muito rápida e intensamente. E o trabalho que estava fazendo em Londrina, no norte do Paraná, começou a ser visto por muita gente.

Tive meus heróis, mas nunca fui de endeusar ninguém. Drummond não era um dos meus heróis. Era uma entidade. Era o grande poeta brasileiro. Aquele que estudávamos na escola. Imagina o que era receber um cartão dele, dando um tapinha na bunda e dizendo: vai, garoto, segue adiante, a bola está contigo.

Nunca divulguei este cartão. Pouca gente sabe dele. Nem meus filhos sabem. Acho que agora, depois de tantos anos, já posso fazer jus as suas breves, mas incentivadoras palavras, sem parecer cabotino.

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