Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 13 de junho de 2017

"todas as cartas de amor são ridículas".

O ridículo na política

Alvaro Costa e Silva 




O truísmo de Fernando Pessoa —que entre nós ganhou leitura melosa de Roberto Carlos e dramática de Maria Bethânia— garante que "todas as cartas de amor são ridículas". No tempo atual em que não há mais cartas, muito menos as de amor, o ridículo migrou para a política.

Escreve Marcia Tiburi no seu recém-lançado livro "Ridículo Político" (Record): "As cenas ridículas —e seus personagens conhecidos— traduzem o sentimento da política em nossos dias, não como uma bagunça espontânea feita por gente despreparada para os cargos que ocupa. A esbórnia política em que vivemos é produzida e sustentada pelos objetivos de poder".

O julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral é um exemplo perfeito dessa ideia. No afã de salvar a pele de um presidente investigado por corrupção e negar o óbvio —que a campanha de 2014 foi uma das mais sujas da história do país—, valeu tudo. Um espetáculo que superou, no grotesco da encenação, aquele domingo, em abril de 2016, no qual se aprovou na Câmara dos Deputados o impeachment de Dilma.

São momentos caricaturais do longo processo de 8.000 páginas: o ministro Admar Gonzaga disse que não costuma verificar seu saldo bancário —deve ser o único brasileiro a gozar tal privilégio. O ministro Napoleão Nunes Maia Filho invocou "a ira do profeta" e fez um sinal de degola —o alvo seria a atuação da imprensa e do Ministério Público. Faltou o ministro Gilmar Mendes. Bem, Gilmar Mendes age como a caricatura de si mesmo.

Na quarta(7), enquanto os trabalhos no TSE eram retomados, uma mulher tentou invadir o Palácio do Planalto aos gritos de "Temer, te amo". Depois, deitou-se no chão. Ela deu sinais de que não bate bem da bola e precisa de ajuda. Diante da concorrência, a cena ridícula que protagonizou foi leve. 

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