Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 9 de março de 2017

Para mim, o Dia Internacional da Mulher é de luta para todas serem livres de verdade e, mais que se saberem livres, sentirem que podem fazer o que bem entenderem. Ou nas alardeadas palavras de Nina Simone nos últimos dias, "liberdade é não ter medo".

A importância do Dia da Mulher, ou por que todas nós merecemos ser livres 

Camila Marques

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As mulheres já conquistaram tanto, isso ninguém discute. Mas os óbvios desafios do dia a dia e os que permanecem impregnados nas entrelinhas de uma sociedade machista mostram a importância de cada 8 de março.


Segundo a OIT, um terço de homens e mulheres preferem que elas não tenham emprego remunerado, fora de casa. "Ah, mas quem responde a pesquisa diz que aceita caso ela tenha um emprego, não aceita?", me argumentou um hoje. Aceitar é sua obrigação, não desejar a desigualdade é a solução.

"Mas você é a prova de que está tudo bem, você tem um bom emprego, é reconhecida, independente. O resto é mimimi", continuou a mesma pessoa. Não, não está tudo bem. Ser a exceção só confirma que está tudo muito mal.

Eu não sou a Fernanda *, que sai tarde da escola e tem medo de entrar sozinha num ônibus com três homens que olham e sorriem quando a veem. Eu não sou a Bárbara *, que quando ouve um elogio às 23h na rua erma ao voltar para casa tem medo de ser machucada.

Um homem, nessas mesmas cenas, não teria medo se as pessoas do outro lado no ônibus ou na rua fossem mulheres. Simplesmente não teriam o pensamento (ou a sensação) de 'posso ser estuprado, podem mexer comigo, posso me machucar'.

Homens não sentem o medo constante que as mulheres sentem.

Aprendi que não posso relativizar a campanha "Chega de Fiu Fiu" só porque consigo olhar nos olhos o autor (ou seria agressor?) de um comentário supostamente elogioso que passa ao meu lado na calçada.

Eu não sou pobre e negra, não dependo de horas no transporte público e caminhadas por asfalto mal iluminado chegar em casa. Eu não cresci sob o constante temor de não poder alguma coisa. Então não, eu não tenho o direito de criticar ou opinar sobre o medo de quem passa pelas situações aterrorizantes de todos os dias.

Eu sou filha de professores de classe média, educada por pais liberais e por um homem que me ensinou a acreditar que eu poderia conseguir o que sonhasse. Eu sou a exceção, mulher em cargo de chefia e respeitada, treinada para não ver distinção de gênero onde o gênero não importa.

Ainda assim, tenho medo: do julgamento alheio ("coitadinha, é divorciada, solteira, sem filhos"), da sensação de injustiça nos comentários machistas ("TPM?"); do olhar para a minha roupa enquanto eu falo (sim, já troquei de blusa antes de sair de casa para uma reunião).

Para mim, o Dia Internacional da Mulher é de luta para todas serem livres de verdade e, mais que se saberem livres, sentirem que podem fazer o que bem entenderem. Ou nas alardeadas palavras de Nina Simone nos últimos dias, "liberdade é não ter medo".

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