Recentemente Paul McCartney esteve no Brasil; Vou refazer a frase: - Recentemente Paul McCartney esteve na memória dos jovens do Brasil; Mais uma vez: - Recentemente Paul McCartney invadiu a juventude brasileira dos velhos jovens da década de 60/70; Teimoso que sou, repito: - Recentemente Paul McCartney reacendeu o sonho de imberbes cajazeirenses em foto histórica dos Beatles; Só pra encher a paciência do provável leitor: - Recentemente Paul McCartney despertou minha memória radiofônica da Rádio Alto Piranhas quando, pré adolescente, ficava encantado, acatado, molecado com a música dos Beatles rodada naquela emissora; Recentemente a juventude desses jovens da foto acima reportou-me à juventude rebelde mundial da década 60/70, e nesse ‘mundial’ estão incluídos esses atravessadores da faixa de pedestres, esses transgressores em singelo gesto repercutido da faixa da urbe inglesa. Recentemente – o que são 50 anos diante do tempo de existência do homem! - essa faixa era, ali por volta de 1960/1970, a faixa de Gaza, símbolo da guerra entre palestinos e israelenses. Recentemente, esses jovens residentes em Cajazeiras, eram os adolescentes de cabelos longos, barbichas, almas pueris incorporados ao espírito da recém-época de Che Guevara e Fidel Castro. Esse ‘recentemente’ foram as guerras do Vietnam, as barricadas de Paris, Woodstook, e todo aquele caldeirão cultural revolucionário de comportamentos e idéias libertárias. Aquele ‘recentemente’ era a ebulição dos jovens cajazeirenses explodindo em peças teatrais nas figuras renomadas de Sibito, Bira, Vilar e mais uma ruma de gente boa da representação que iria desembocar no cenário paraibano e nacional, e, porque não dizer, internacional, como foi o caso de Marcélia Cartaxo que ganhou o prêmio Urso de Prata em Berlim, Alemanha; Como também surgiram cabeças pensantes e fervilhantes no rádio local (geração Gutembergue Cardoso, Nonato Guedes, Josival Pereira e mais uma pá de gente de primeira); em cine clube (Cine Clube Vladimir de Carvalho); festivais de músicas (na AABB); poesias (Colégio Estadual...), semanas universitárias (um mundo aparte que daria para escrever um livro); embriões de imprensa escrita; poetas publicando livros (a exemplo de Irismar de Lira); e outros eventos criativos. Esse ‘recentemente’, no calendário cronológico, está a 2.600 km de Brasília para mim, a 500 km de João Pessoa onde moram muitos desses cajazeirenses que figuraram como atores naquele quadro cultural, ou a não sei quantos quilômetros de qualquer lugar onde agora reside qualquer personagem de então. Mas sabemos que, para todos esses jovens cabeludos dessa foto, e todos os jovens que eles representaram, em qualquer quadrante de Cajazerias, estamos todos ali, no presente momento da memória afetiva, adentrando o palco iluminado da Avenida Presidente Joao Pessoa, transitando e tramando, transpondo e transmitindo emoções para todos os jovens que compomos aquele cenário micro da história revolucionária de costumes daquele mundo dos anos sessenta/setenta/oitenta. Uma foto. Olhei essa fotografia e vi tudo. E o importante: uma foto colorida. Um gesto simbólico copiado. Um registro instantâneo. Um registro histórico. Um pedaço de papel. Hoje um registro digital. Uma memória revolvida. Uma satisfação devolvida. Um clique. O’clock. O tempo não para. Hoje, dizem, vivemos um mundo visual. Ontem, vivemos um mundo de visão. Visão sonhadora. Essa foto não é apenas essa foto. Essa foto representa todas as fotos imbuídas do espírito que queriam modificar o mundo. Nem que fosse nas intenções. Todas as fotos dessa época são o retrato dessa foto. A foto dos rapazes de Cajazeiras. A foto dos rapazes de Liverpool. A foto e o fato. De fato, a foto está estampada na parede de nossas memórias.
Eduardo Pereira
E-mail: dudaleu1@gmail.com
que besteira
ResponderExcluirCaro Fernando Pessoa Nogueira de Assis: muito boa sua crítica. Por mais que me esforço, não tenho talento para escrever quase que diariamente de forma original.Mas agradeço por você ser leitor de minha besteiras. Isto é, até esse texto.
ResponderExcluirEduardo Pereira.
Pereira, qem são esses cabeludos?
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