Seu Walmor, que era dono da sorveteria mais conhecida de Cajazeiras, tinha um filho que era tão engraçado quanto ele. Era hilário, humor espontâneo, com tiradas irônicas no clima do bate-papo da hora. Era um gago sem grilo.
Na segunda metade da década de sessenta estudava em João Pessoa, com meu irmão Sales, na Casa do Estudante. Estudavam o científico. De quinze em quinze dias, mais ou menos, minha mãe, mais a mãe dele, dona Zefinha, mandavam uma feirinha para eles se virarem na capital, que ia pelo motorista da empresa de ônibus Andorinha, de João Alves. Eu e meus irmãos brigávamos para deixar a encomenda lá na sorveteria, pois era dona Zefinha que providenciava a entrega ao motorista da Andorinha. A briga pela entrega era porque já sabíamos que dona Zefinha seria generosa com picolés para gente chupar.
No início da década de setenta, Sales e ele se mandaram para Brasília. Ele chegou a residir na capital federal por cerca de dois a três anos, mas acabou retornando para Cajazeiras. Era um sujeito presepeiro. Eles moravam numa pensão. Muitas vezes, ele, querendo comer mais carne, ao receber seu prato feito, escondia o bife no fundo do prato e gritava para a dona da pensão, dona Neném, que não tinham colocado bife para ele. Ela então ia lá, e botava um bife para ele, e, depois que comia o bife que acabara de receber, metia o garfo no fundo do prato e pescava o bife escondido e gritava: “Êi, dona Neném, achei o bife!”.
Era um cara diferente na sua relação com seu salário. Trabalhou em subestações da CEB – Companhia de Eletricidade de Brasília, e, quando recebia o salário no fim do mês, só voltava a trabalhar quase uma semana depois. Simplesmente desaparecia. Desaparecia porque enquanto tivesse dinheiro estava gastando, e ao acabar a mufa, então retornava ao trabalho. Não dava para entender essa sua metodologia antifordiana. E muito menos como seus chefes o aceitavam de volta.
Tinha certas manias estranhas. Ao dormir, seu corpo não ficava com a cabeça na cabeceira da cama. Dormia invertido. Os pés é que ficavam na cabeceira. Indagado o motivo desse seu jeito ele falava que era por precaução. “Precaução de que?” indagavam-lhe. “É porque se de madrugada vier um ladrão, e quiser me enforcar, ele vai enforcar meus pés, aí eu me sento e dou uma porrada na cabeça do ladrão e desmaio ele”, explicava.
Pois bem, o filho de seu Walmor, há poucos anos morava em Recife, e mais recentemente em João Pessoa, e sofria de hemofilia. Estava muito doente, e, sábado passado último, dia 28, ele veio a falecer. Tinha 64 anos, e deixa uma lembrança de riso de vida como o seu pai.
A notícia do falecimento foi Sales, meu irmão, seu grande amigo, que me avisou. Falou Sales:
“Pois é, ele morreu, e, em cumprimento ao trato que ele fez comigo, era de que, quando ele viesse a falecer, assim que eu soubesse da notícia, era para eu beber uma cerveja, e é isso que estou fazendo agora”, falou Sales.
Sempre surpreendendo o cara. O nome desse cara, o filho mais novo de “seu” Walmor, é ZEZITO!
Eduardo Pereira.
E-mail: dudaleu1@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário