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quarta-feira, 23 de maio de 2018

publicações com os dias contados

Revista Interview, fundada por Andy Warhol, fecha após 50 anos. 
Publicação retratava sociedade nova-iorquina e foi adquirida por colecionador em 1989


Ninguém precisou de uma bola de cristal para prever o fim de uma revista que marcou época apelidada de “bola de cristal do pop”. Depois de uma longa agonia financeira e brigas que se arrastam nos tribunais, a Interview, publicação fundada pelo artista Andy Warhol em 1969, está fechando as suas portas.

O anúncio do fim se deu pelas redes sociais, com uma onda de tuítes de seus editores lamentando o fim da revista criada por Warhol como instrumento para moldar a cultura mainstream em paralelo à revolução que ele já vinha causando no mundo da arte.

Atolada em dívidas trabalhistas e ameaçada de uma ação de despejo de seus escritórios no SoHo nova-iorquino, a publicação disse não ter mais condições de continuar circulando, acrescentando num comunicado que já vinha operando no vermelho.

No mês passado, Fabien Baron, o último editor executivo da revista, pediu demissão e entrou na Justiça para cobrar o equivalente a R$ 2,2 milhões em salários atrasados. Pelo menos outros três editores seguiram seu exemplo, e há ainda acusações de casos de assédio contra um executivo.

É o fim de uma publicação que começou cercada de hype, com ninguém menos que o maior artista pop da história como seu garoto-propaganda.

Depois da morte de Warhol, em 1987, a Interview foi comprada pelo bilionário Peter Brant, um conhecido colecionador de arte. Ele ressuscitou o título escalando para comandar a redação a editora Ingrid Sischy, que fez da revista uma espécie de bíblia do cool da década de 1990.Sob o comando de Sischy, morta há três anos, a Interview moldou uma parte importante da cultura de celebridades, estampando na capa uma Madonna em plena ascensão ao olimpo do pop, um Leonardo DiCaprio ainda adolescente e um Mark Wahlberg recém-saído de seus anúncios para as cuecas Calvin Klein.

Nas páginas da revista, celebridades revelavam seus segredos em longas entrevistas nunca editadas, imitando ao longo das décadas o estilo meio nonsense das conversas de Warhol com sua entourage, numa extensão de seu mítico ateliê, a Factory, para as bancas de jornal de Manhattan.Entre os primeiros colaboradores da Interview, tão obcecado por celebridades quanto seu fundador, estava Truman Capote, um dos heróis do jornalismo literário.

A revista também ficou conhecida pelas ilustrações de Richard Bernstein, que traduzia algumas das ideias de Warhol na arte pop em retratos feitos da capa, como os de Aretha Franklin, Diane Keaton, Mick Jagger e Stevie Wonder.

Uma versão brasileira da publicação, em que trabalharam fotógrafos como Vania Toledo, também chegou a circular nas décadas de 1980 e 1990, retratando todo o circo das celebridades entre o Rio e São Paulo.

Mas o mundo já é outro desde então. Mudanças na cultura das celebridades, que se transformou na era das redes sociais, acabaram erodindo a influência da Interview numa época em que todo o hype se define em plataformas online.

O fim da Interview vem no rastro do anúncio de outra crise no setor de mídia impressa. Há um mês, o grupo Meredith, que controla a revista Time, uma das mais importantes dos Estados Unidos, pôs a publicação à venda junto de outras, como Sports Illustrated, Fortune e Money.

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