Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

os fios descapados do Edu



Vemos gente de todas as tribos andando no calçadão da praia exibindo suas camisetas com mensagens como se fossem outdoors ambulantes. E é. Em tempos de espelho cristalino de redes sociais, todos nos tornamos narcisistas. “É que Narciso acha feio o que não é espelho” (Caetano Veloso).

Do maratonista que exibe com orgulho que esteve correndo em Nova York à senhora que faz questão de anunciar aos quatro cantos do mundo que é voluntária em projeto social.
Mas a camiseta que achei mais engraçada, ou melhor, engraçada não, a mais chamativa, foi a de um velhinho, rechonchudo, que caminhava a passos lentos carregando nas costas da alma uma árvore genealógica prazerosamente. Sim, prazerosamente. Julgo. A estampa de sua blusa dizia: “Vô, você é muito fera”. 

Imagino que a festa de aniversário dele foi muito grande, reunindo do bisneto ao filho mais velho que, se não brincar, logo logo está encostando em sua idade. 

Outros vôzinhos e vozinhas caminhavam – acompanhados ou não - no ritmo que o tempo nos encarquilha.

Parece que os avôs vão perdendo as forças não para os filhos, mas para os netos. Os polos opostos se atraem. Tenho um amigo avô que já se separou de três mulheres mas diz que há uma mulher que lhe domina. Sua neta de pouco mais de cinco anos de idade. E sempre acrescenta quando fala disso um: “já pensou!”. 

Tenho um irmão avô que se rende à neta como se fosse seu vassalo. Registra tudo dela no celular e envia para o zap familiar. Minha mãe, do alto de seus noventa e dois anos antes de ser chamada para o paraíso, falava que ele era um avô babaca. Ríamos muito porque ela queria dizer ‘babão’. No fundo no fundo os avôs se tornam babacas de seus netinhos.

Meu avô era agricultor e em criança, de férias escolares, eu e meus irmãos o ajudávamos a plantar milho, feijão e maniva. Eu o admirava muito porque, semianalfabeto, era poeta. E tinha um poema que ele gostava de recitar quando chegava visitas em sua casa. Até hoje lembro-me o final desse poema, que dizia assim: “A morte é sem piedade. Mata pobre, mata rico, mata doutor. A morte é sem piedade: matou até Jesus Cristo!”. 

O meu pai era paraibano; meu avô era paraibano; meu bisavô era paraibano; meu tataravô era paraibano. Chico Buarque é soberano no mix de sua ascendência. Caetano Veloso está com show com os filhos, mas Chico já poderia fazer um com seus netos, que têm veia musical como o avô e o pai.

O dia 26 de julho é considerado o Dia dos Avós. Dou uma clicada no google e descubro que esse dia é alusivo à comemoração do dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. 

De minhas avós tenho pouquíssimas lembranças. Não reservaram tempo para minhas memórias. Mas tem uma que marcou a minha geração e do Brasil inteiro. Era a vovó Donalda, personagem das histórias em quadrinhos da Disney. Era simpática, bondosa, como todas avós hão de ser.

Eduardo Pereira
Jampa, 04.01.2018


Nenhum comentário:

Postar um comentário