Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

se Brasília não destruir o país.

Pequenas, micro, nano novidades animadoras 

Vinicius Torres Freire

COMO DEVE agora estar claro para todo o mundo, o surto de imundície política que começou em maio não voltou a derrubar a economia.


Decerto governo, Congresso e castas da elite se empenham de modos diversos a lançar o país em novo ciclo de destruição socioeconômica, mas por hoje vamos tratar do que deu menos errado, ao menos até meados deste 2017. Há até pequenas, micro, nano novidades animadoras.

Antes de mais nada, convém qualificar essa melhoria, microscópica: a economia continua a dar sinais de que vai crescer aquele zero vírgula alguma pouca coisa por cento. Era o esperado, dados o tamanho do desastre e a receita de recuperação, baseada apenas em baixa de taxas de juros e de inflação, uma convalescença lentíssima.

Indústria, comércio e serviços ficaram no azul no segundo trimestre, uma surpresa.

No caso dos serviços, foi o primeiro resultado positivo depois de mais de dois anos de baixa. Talvez as projeções para o PIB trimestral sejam revisadas para cima (estavam no vermelho até ontem), embora muito pouco se saiba do que foi feito do investimento.

As taxas de juros bancários de junho foram a novidade mais interessante do trimestre. Depois de mais de seis meses de queda razoável da Selic, da campanha de baixa do Banco Central, as taxas nos bancos passam a convergir para o nível normalmente anormal dos juros brasileiros.

A taxa básica de juros real no mercado (ex ante) baixou de 7,2% em dezembro para os 3,2% de agora, nível inédito desde meados de 2013. Em junho, as taxas de juros nos bancos também começaram a convergir para as taxas de meados de 2013. Sim, trata-se das taxas altíssimas de sempre.

Repita-se: é uma volta à normalidade anormal, cíclica, não de mudança na estrutura do crédito no país, outros quinhentos.

As taxas dos financiamentos bancários mais importantes (em volume) aproximam-se de um nível compatível com as taxas básicas da economia (Selic; DI). É o caso de capital de giro, crédito para a compra de casa ou carro. Ainda estão mais altas que em meados de 2013, mas chegando lá.

Mesmo o pequeno aumento da massa salarial (total de rendimentos do trabalho), que anda pelo ritmo dos 2%, e a queda dos juros nos bancos devem, enfim, contribuir para a diminuição do peso do serviço da dívida ("prestações") no orçamento das famílias. O endividamento foi uma das piores doenças dessa praga multifacetada, a Grande Recessão brasileira.

Pelas contas do Banco Central, o serviço da dívida leva 21,3% dos rendimentos dos brasileiros (do trabalho e outros).

Ainda está perto da média de 22% registrada desde 2011, quando a economia começou a embicar para o buraco. Nos anos Lula 2 (2007-10), a média foi inferior a 19%. A diferença apenas parece pequena.

Como a fatia da renda dedicada à amortização variou pouco, a persistência do peso do endividamento se deveu a juros.
Deve levar um ano, por aí, para que dívidas caras sejam substituídas por crédito a taxas menos extorsivas a ponto de tal mudança aparecer de modo relevante no tamanho das prestações (serviço da dívida). Mas deve acontecer, se Brasília não destruir o país. Se acontecer, haverá mais espaço para consumo e um crescimento melhorzinho em 2018.

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