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quarta-feira, 12 de abril de 2017

"não sobrou ninguém honesto e correto para que o povo tenha um mínimo de esperança"

A lista do ministro Luiz Edson Fachin coloca o sistema político brasileiro pendurado em um abismo horrendo, sem rede de proteção e sem prazo para ser atravessado.

Clovis Rossi 



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Por mais que a lista não seja propriamente uma grande novidade, o fato é que ela representa uma espécie de consolidação do elenco da corrupção e, como tal, causa a sensação de que "não sobrou ninguém honesto e correto para que o povo tenha um mínimo de esperança", como escreveu o leitor Victor Claudio para o Painel do Leitor desta quarta-feira (12).

É um exagero, claro, mas é uma sensação inescapável quando se verifica, por exemplo, que estão citados todos os presidentes do período democrático, à exceção de José Sarney, que tem lá seus próprios problemas, e de Itamar Franco, que já morreu.

Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –estão todos lá.
Sobre o governo de Michel Temer, que já não tem legitimidade eleitoral, pode-se dizer que perde legitimidade de ação. Em qualquer lugar (civilizado) do mundo, fica inteiramente desacreditado um presidente que tem todos os seus quatro homens mais próximos e de mais confiança fulminados por suspeitas de corrupção.

No Brasil de Temer, não são apenas quatro os seus auxiliares que figuram na lista, mas boa parte de sua base de sustentação (65% dos citados pertencem à base do governo atual).

Como não há hipótese de que se faça uma eleição direta mais ou menos imediata, o governo Temer estará suspenso no abismo até 2018.

O que não quer dizer que a eleição de 2018 permitirá eventualmente ultrapassar o buraco negro, porque boa parte dos presumíveis candidatos também aparece na lista.

Claro que os condescendentes dirão que a abertura do inquérito determinada por Fachin não significa que todos sejam culpados. Concordo, mas cabem observações relevantes para matizar essa obviedade:

1 – A denúncia da Procuradoria, acatada por Fachin, baseia-se nas delações da Odebrecht. Para que os delatores mentiriam, se perderiam, nesse caso, os benefícios previstos no esquema?

2 – Se as delações não são verdadeiras, por que então a Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 6,7 bilhões em um acordo de leniência, que, segundo a Folha, os procuradores norte-americanos consideram o maior do mundo?

3 – Se o ministro Fachin aceitou mandar abrir inquéritos é, obviamente, porque encontrou na denúncia da Procuradoria elementos suficientes para tanto.

Por fim, mesmo que se aceite pelo valor de face a ideia de que ainda não há culpados, não há como escapar da observação do sempre competente Igor Gielow quando diz, na Folha de quarta, que "o efeito político da lista é bem mais eficaz do que o judicial".

Introduza-se na equação a correta avaliação de Fábio Wanderley Reis, um dos melhores cientistas políticos do Brasil, que lembra que, sem a atividade política "não vamos poder administrar o país".

Pois é, professor, é a esse abismo a que nos levou a corrupção da indispensável atividade política.

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