Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 8 de março de 2017

"Não precisamos complicar mais a discussão da Previdência introduzindo nela a mortalidade infantil."

 Bebês não se aposentam 

Helio Schwartsman 




Um argumento popular contra a adoção da idade mínima de 65 na reforma da Previdência é o da expectativa de vida.

O sindicalista Ricardo Patah o expôs com maestria em texto publicado no sábado (4): "Embora a expectativa de vida dos brasileiros seja de 75 anos, na média, segundo o IBGE, os Estados do Nordeste —especialmente Maranhão, Piauí e Alagoas— ficam abaixo disso, por volta dos 68 anos [na verdade são 71 anos, mas deixemos a imprecisão de lado]. 

Ora, se for implantada a idade mínima de 65 anos, ninguém irá se aposentar nessa região. Morrerão todos no batente —o que é, no mínimo, uma crueldade com os trabalhadores".

O argumento é sedutor, mas não parece atuarialmente correto. Quando falamos de Previdência, não faz sentido usar a expectativa de vida ao nascer. Bebês não se aposentam. O certo é pegar as tábuas de mortalidade, que revelam a expectativa dos anos que restam de vida para todas as faixas etárias. E os dados do IBGE de 2015 mostram que o brasileiro (ambos os sexos) que chega aos 65 anos pode esperar viver mais 18,4 anos e alcançar a provecta idade de 83,4 anos.

Diferenças regionais persistem, mas atenuadas. O pior Estado aqui é Rondônia, com 80,8 anos, e o melhor, Espírito Santo, com 85 anos.

Patah não é a única vítima das sutilezas em torno do conceito de esperança de vida ao nascer. Em, 1940, a expectativa de vida do brasileiro era de 45,5 anos. Mas é um erro imaginar que encontrar velhos era raridade.

A razão para isso é que são os óbitos infantis que jogam a expectativa de vida para baixo. O inverso também é verdadeiro. O grosso do avanço que obtivemos nas últimas décadas pode ser creditada a duas intervenções fundamentais: saneamento básico e vacinações, que fizeram a mortalidade infantil despencar dos 147 por mil em 1940 para 13,8 hoje.

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