Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

mas o que se fixou, mesmo entre autores com bagagem acadêmica, é o seu uso mais raso e jornalístico.

   
Luis Felipe Miguel

Tenho muitas discordâncias com o artigo de Celso Rocha de Barros, na Ilustríssima de hoje, sobre o futuro da esquerda. Discordâncias quanto à posição política de fundo; acho que a tese (bem velha, na verdade) de que o futuro da esquerda é uma adequação bem comportada a algo que se rotula de "capitalismo democrático" significa, na verdade, amputar da esquerda seu potencial transformador. E é também uma tese que se funda numa incompreensão profunda da conjuntura brasileira, que revela exatamente que não há bom-mocismo no mundo que convença a classe dominante brasileira a aceitar a redução das desigualdades.

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Tudo isso são saudáveis discordâncias de posição política. Mais sério, para mim, é o uso de "populismo" como uma espécie de insulto difuso, aplicado a quem quer que fuja da cartilha "apropriada" do fazer político. É um uso que busca estigmatizar qualquer um que manifeste algum tipo de preocupação prioritária com o bem estar do povo. A esquerda "renovada" não pode ser "populista": o que isto significa? Que o compromisso igualitário deve ser bem matizado? Que a distinção social da elite governante deve ser preservada? Que a competência tecnocrática não deve ser desafiada? Que os mecanismos de mercado precisam ser sempre obedecidos? É difícil saber.

Triste é ver que existem décadas de discussão acumulada sobre o conceito, desde Gino Germani, Torcuato di Tella, Guerreiro Ramos, Octavio Ianni, Francisco Weffort, Ernesto Laclau e tantos outros, mas o que se fixou, mesmo entre autores com bagagem acadêmica, é o seu uso mais raso e jornalístico.

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