CIVITAS DEMITEM CUNHADO, RACHAM CLÃ E CRIAM RIVAL.
Principal quadro da área comercial do Grupo Abril, Jairo Mendes Leal perde todos os cargos conquistados em 40 anos na empresa; marido de Roberta Civita, única filha mulher de Roberto Civita, morto este ano, executivo era do staff da AbrilPar e tinha assento no conselho editorial; absolutismo dos irmãos Gianca e Titi Civita pode custar caro; respeitado pelo mercado publicitário, Leal avisa que irá criar a sua própria editora; em apenas três meses no poder, herdeiros promoveram mais de uma centenas de demissões, dividiram a própria família e defenestraram seu principal executivo; mutatis mutandis, são eles os Bórgia do século 21?
247 – No Renascimento europeu, a família hispano-italiana Bórgia tantas fez que entrou para a história como sinônimo de traições e barbaridades dentro de si mesma e alhures. Mutatis mutandis, ao longo dos séculos diferentes outros clãs foram alvos de comparações com aqueles amantes da política, do poder e das perversidades. Agora, de novo.
Nesta terça-feira 8, por meio de um comunicado repleto de floreios, em tudo parecido com uma mensagem que saúda uma grande promoção na carreira, os dois herdeiros Civita, do Grupo Abril, Ginca e Titi, se livraram de uma terça parte de sua própria família: o executivo Jairo Mendes Leal foi demitido.
Considerado o principal quadro da área comercial da Abril, Leal foi defenestrado sem motivo declarado. Num só empurrão, ele foi tirado de suas cadeiras no staff da AbrilPar, a holding da organização, e no Conselho Editorial. Nos últimos 20 anos, foi homem de confiança do patrão Roberto Civita (1936-2013), que lhe concedeu a mão de sua única filha, Roberta, em casamento. Ingresso na Abril aos 15 anos de idade, o executivo que cumpriu uma carreira de 40 anos na empresa era como um filho para o sogro. Os filhos de Roberto mostram, agora, que a harmonia familiar acabou.
A cizânia, porém, está apenas começando. A amigos, Leal já diz que pretende, o quanto antes, montar uma editora para concorrer com a casa da qual foi oficialmente expulso hoje. Para tanto, experiência e competência não lhe faltam. Como reconhece Giancarlo Civita, citado no comunicado de dispensa do cunhado (abaixo), o executivo que sai detém "grande conhecimento de todos os aspectos do negócio de fazer revistas". O texto assinala que Leal "vai agora dedicar-se a projetos pessoais fora da organização".
REQUINTE DE HUMILHAÇÃO - De maneira bastante cruel diante dos que que conhecem os meandros da Abril e do mercado, o comunicado oficial lembra que Leal criou as revistas Men's Health, Lola e Alfa, estas duas últimas fechadas por Gianca e Titi assim que assumiram seus posto atuais, sob alegação de darem prejuízo à empresa. Esse tipo de requinte de humilhação só é dominado pelos clãs acostumados a vigorosas lutas intestinas. Trinta anos atrás, antes de morrer, o fundador do grupo, Victor Civita, teve o cuidado de dividir sua herança empresarial cuidadosamente entre seus filhos Roberto e Richard para que eles não se engalfinhassem numa disputa fraticida. Apelidado de Tio Patinhas, o "seo" Victor sabia os filhos que tinha.
Não há uma palavra sequer sobre o motivo, afinal, para a saída de Leal. O que se sabe é que era um corte anunciado. Antes de tirar o crachá dele de acesso ao NEA - Novo Edifício Abril -, os Civita ordenaram a demissão do também executivo da área comercial Roberto Ferreira, considerado o braço direito do executivo que continua, goste-se ou não, pertencendo à família.
Sem Ferreira, antes, e Leal, desde agora, a Abril vai apresentando um desempenho bastante duvidoso na venda de espaços comerciais em seus produtos. A semanal Veja, o mais vistoso deles, atravessa um ano de receitas magras, com um recorde negativo de páginas de anúncios entre os espaços editoriais. Neste campo, de resto, Veja cravou nesta semana um claro descompromisso com o equilíbrio em seu noticiário. A quebra dos sigilos fiscal e bancário, pela Justiça, do grão-tucano Andrea Matarazzo e mais dez suspeitos de envolvimento no escândalo de corrupção Alstom-Siemens-Governo de São Paulo não mereceu o registro de uma linha sequer na revista dita como de informação. Os Bórgia, quer dizer, os Civita estão mesmo no comando.
Abaixo, o comunicado oficial da Abril sobre a saída do cunhado de Gianca e Titi Civita do Grupo Abril:
Jairo Mendes Leal deixa o Grupo Abril
Giancarlo Civita, presidente do Conselho de Administração da Abril, comunica a saída de Jairo Mendes Leal do Grupo. Jairo, que recentemente havia se desligado do comando das operações de mídia para integrar o staff da AbrilPar – holding que controla a Abril S.A. (Mídia e Gráfica), a DGB (Logística e Distribuição) e o capital da Abril Educação S.A., além de uma série de outros empreendimentos – vai agora dedicar-se a projetos pessoais fora da organização. Com isso, ele deixa também seu assento no Conselho Editorial, presidido porVictor Civita Neto, membro do Conselho de Administração da Abril S.A. e do Conselho de Administração da Abril Educação.
Jairo Mendes Leal ingressou no Grupo Abril em 1973, com apenas 15 anos de idade. Ocupou múltiplas funções, passando por quase todas as áreas nesses 40 anos de empresa. Foi gerente de Planejamento e Controle, Financeiro e de Circulação, diretor Comercial, de Circulação e de Planejamento, diretor-geral do Grupo de Interesse, e vice-presidente da Editora Abril. Em janeiro de 2009, tornou-se presidente-executivo da então Editora Abril, passando posteriormente a presidente-executivo da Abril Mídia, à frente da qual destacou-se com o lançamento de diversas revistas, entre elas Lola, Men's Health e Alfa. Além disso, sua gestão foi marcada pela consolidação de Capricho como uma das maiores marcas teens do Brasil. Jairo é formado em Administração de Empresas e Contabilidade pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), com especialização em Administração Financeira pela USP.
Para Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal deu uma contribuição valiosa ao processo de consolidação da Abril como a maior e mais completa empresa de mídia segmentada do país. "Certamente, é uma figura relevante na história recente da empresa devido ao grande conhecimento que tem de todos os aspectos do negócio de fazer revistas", declara Giancarlo. "A trajetória de Jairo na Abril é marcada pelo pragmatismo e pela notória paixão que imprimia na sua relação com os títulos e as pessoas que os produziam e os comercializavam", observa Victor Civita Neto. "Por todas essas contribuições, a Abril é muito grata ao Jairo", finaliza Giancarlo.
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