Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nunca, Nunca,.. AI-5 NUNCA MAIS!

Infeliz aniversário

texto : Roberto Amado




Na semana passada, exatamente em 13 de dezembro, o AI 5, ou o Ato Institucional número 5, completou 41 anos e, embora tenha morrido em 13 de outubro de 1978, permanece vivo na memória de quem conheceu aqueles tempos sombrios. Na são muitos: uma pesquisa do DataFolha apurou que 80% dos entrevistados nunca tinham ouvido falar sobre essa manifestação da ditadura militar.


Até por isso, é bom lembrar: o Ai5 foi o principal instrumento de exceção da ditadura militar, “constitucionalizando” a repressão praticada informalmente até então. Em outras palavras, a censura, a proibição de manifestações e opiniões, a liberdade vigiada, as cassações e até a possibilidade de fechar o congresso passaram a ser livremente praticadas pelo poder — no caso, os militares. Na prática, podia-se tudo e não havia mais a via legal para se contestar os abusos de poder cometidos.

Foram dias sombrios, principalmente para quem vivia um ambiente familiar e social de franca oposição ao regime de exceção. Medo, palavras sussurradas, encontros clandestinos, a sensação de que tudo poderia acontecer contra a sua integridade física. Nos dias mais difíceis, eu era bem jovem e as experiências ruins que tive não foram tão traumáticas quanto tantas outras que ouvi naquela época. Mas gostaria de contar uma passagem, relacionada ao AI 5, que me marcou.



Em 1972, eu tinha 16 anos. Era um adolescente alto, perto de 1,80m de altura, já com uma barbicha e cabelos compridos, compondo o visual comum daquela época entre adolescentes. Parecia mais velho.

Certa noite, depois do jantar, saí para fumar (calma! Era um Minister, antiga marca de cigarro). Eu fumava escondido da família, da mesma forma que até os adultos fumantes fazem hoje em dia. Era uma noite fria e eu vestia um casaco verde, de militar, que chamávamos de “casaco de general”, muito usado naqueles tempos. Nada parecia inspirar perigo, até que três sujeitos, à paisana, se aproximaram de mim. Por que eu estava vestindo aquele casaco?, me perguntou um deles. Sem ouvir a resposta, puxou uma credencial que mencionava algo sobre polícia federal. Você vai ter que nos acompanhar, disse o mesmo. Lembro de ter tentado argumentar alguma coisa, mas não obtive sucesso. Conduziram-me para o interior de uma praça escura. Um deles me mobilizou segurando meus braços por trás. O outro agarrou meus cabelos. O terceiro me deu um soco na barriga. Minhas pernas bambearam, fiquei sem respirar alguns segundos e dobrei na cintura. Na hora, não senti dor, mas minha barriga ficou dolorida por umas duas semanas. Quando me recuperei, me pediram documentos. Menores de idade não são obrigados a ter, mas eu tinha RG. “Ih, ele é de menor!”, disse o que havia me segurado pelos cabelos. O que me deu o soco, ficou alguns segundos em silêncio, mas logo respondeu, praticamente gritando: “E daí?! E daí?! Tamo no Ai5!, tamo no Ai5!”.

Eles acabaram me liberando sem maiores consequências e eu nunca contei esse episódio a ninguém, porque achava não ser muito importante. Hoje eu acho. Não posso deixar de lembrar dessa história sempre que ouço a expressão AI5, como agora, nesse solene aniversário.


Só me resta dizer: infeliz aniversário, muitos anos de morte, AI5.

Autor   Roberto Amado- Blog ALFA

Fonte - cópia Blog do Dirceu 7 Candeeiros.

Fotos pesquisanet -bira-Ac2B


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