Se a democracia americana está na crise de meia-idade, a brasileira, 4 vezes mais jovem, está na pré-adolescência
No seu livro “Como a Democracia Chega ao Fim”, David Runciman faz um quadro clínico do modelo democrático, esse paciente em estado terminal. Não confundir com o também recém-lançado “Como as Democracias Morrem”, de Levitsky e Ziblatt, que fala sobre exatamente a mesma coisa. Vem aí: “Acho que a Democracia Tá Dodói”.
O terreno está fértil pra livros sobre o péssimo estado de saúde da democracia, o que diz muito sobre o seu estado de saúde lastimável. Não se vê nenhum livro sobre o estado de saúde do volante Felipe Melo, do Palmeiras, por uma razão: sua saúde está tinindo, pra desgosto de grande parte da população brasileira.
A morte iminente da democracia virou um novo filão literário, substituindo o já não tão popular romance de vampiros. A culpa deve ser do Temer, que tirou todo o sex appeal da classe dos sanguessugas.
Runciman não acredita, no entanto, que a democracia esteja de fato com o pé na cova. Pra ele, o modelo democrático só tá passando por uma crise de meia-idade. A eleição do Trump equivaleria, pra Runciman, àquela motocicleta que o seu tio comprou quando fez 50 anos.
Uma moto pode ser muito perigosa nas mãos de um garoto de 18 anos. Nas mãos de um cinquentão, não oferece tanto perigo. O tiozão que compra uma Harley quase não tira a moto da garagem e, quando tira, é pra desfilar pelo bairro, sem grandes perigos. Pra Runciman, os séculos de vida de democracia americana criaram mecanismos de controle, tornando-a mais resistente às “motocicletas”.
Essa metáfora pode acalmar um leitor americano, mas desespera o leitor brasileiro (por sorte, já quase não existe essa figura do leitor brasileiro). Se a democracia americana está na crise de meia-idade, a brasileira, quatro vezes mais jovem, está na pré-adolescência.
Gregorio Duvivier
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.
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