Próximo presidente terá de liderar um diálogo político; economista não faz milagre
A crise atual começou na economia, em 2012, mas já deixou de ser só isso há muito tempo. Hoje nossa maior crise é institucional e política.
Não será fácil resolver nossos problemas econômicos, mas existem várias propostas viáveis na praça, cada uma com velocidade diferente e maior ou menor redução de desigualdades, de acordo com a preferência de cada candidato.
O que não existe atualmente é confiança em que, seja qual for a escolha dos eleitores, o novo governo terá capacidade de implementar seu plano de ação. Esta é uma das consequências do golpe de 2016, que tornou o Brasil ingovernável.
Naquela época vários economistas não perceberam isso ao apoiar o afastamento de Dilma Rousseff.
Agora alguns destes colegas lamentam que os eleitores não entendem as restrições da economia, quando na verdade o problema está na incapacidade dos aprendizes de feiticeiro em entender as consequências políticas do golpe que apoiaram em 2016.
Faltou autocontenção a vários colegas, mas como disse o ex-presidente Lula, em 2017, por ocasião da morte de dona Marisa: "Não são economistas que vão resolver o problema do Brasil. Temos que resolver pela política, temos que conversar".
O conselho foi ignorado. Lula foi preso por um "ato de ofício indeterminado" (não, não estou inventando este absurdo). Agora há grande incerteza sobre 2019 porque, antes de lidar com qualquer questão econômica, o próximo presidente terá de recuperar a capacidade de governar.
Do lado institucional, será preciso restaurar o Estado democrático de direito, no qual a aplicação de leis não varia de acordo com a orientação política dos envolvidos e no qual todos são inocentes até que se prove o contrário.
Também será preciso reavaliar e aperfeiçoar a atuação de nossos órgãos judiciais e de controle, pois é possível combater a corrupção sem violar direitos individuais, censurar eleições ou destruir empresas e empregos.
Para que isso aconteça, o próximo presidente terá de liderar o diálogo entre os três Poderes da União e diminuir a incerteza jurídica no País.
Do lado político, também seja qual for a decisão dos eleitores, tudo indica que os derrotados não aceitarão o resultado. Por exemplo, se a direita vencer "em um acordo nacional com Supremo e com tudo", provavelmente a esquerda considerará a eleição censurada e ilegítima.
Já se a esquerda prevalecer "em um acordo internacional com o povo, papa, ONU e com tudo", a direita é que tende a não aceitar mais uma derrota (a quinta seguida), por crer em nova ilegalidade (a ser inventada) na candidatura do povo que insiste em querer ser feliz de novo.
O fato é que as eleições não eliminarão a radicalização política dos últimos anos, pois ela é fruto de um processo longo, que acontece não só no Brasil. Seja quem for eleito, entraremos 2019 novamente divididos.
Assim, além da pacificação institucional entre os três Poderes da União, o próximo presidente terá de liderar um diálogo político, para diminuir a virulência e restabelecer o mínimo de civilidade e pragmatismo no debate público do país.
Neste esforço, será crucial ter capacidade de negociação com sindicatos, imprensa, mercado e movimentos sociais, algo raro no Brasil dos últimos anos. Não adianta privilegiar um lado e ignorar a existência do outro, apostando em um time de economistas dos sonhos, pois isto só manterá o atual impasse (vide Temer).
Economista não faz milagre. A solução de nossos problemas começa na política, no retorno do diálogo e da moderação, ainda presos em Curitiba.
Nelson Barbosa
Professor da FGV-SP, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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