Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

recadinhos: "A resposta à derrota pode moldar o futuro mais do que a vitória."

Após eleição, esquerda vive o Apocalipse e direita, a Restauração

 Mario Sergio Conti 

Resultado de imagem para obscurantismo

Os que acham que os resultados do domingo beneficiarão beltrano ou sicrano nas próximas eleições deveriam consultar quem sabe tudo sobre previsões: Eduardo Campos. Ele era um candidato fortíssimo ao Planalto até tomar aquele malsinado jatinho para Santos.

Prever a política é fazer política. É projetar a vitória presente no futuro, decretar que o tempo se congele e 2018 será semelhante a 2016. Além de desprezar o imponderável, é negar a matéria mesma da política, a possibilidade de mudar os dias de hoje e os que virão.

Na hora alta do PT, há menos de dois anos, não faltou quem previsse que o partido ficaria mais três mandatos no poder. A profecia, funesta para os tucanos, fez com que eles sustentassem que a presidente era ilegítima, e em seguida agissem para destroná-la. A resposta à derrota pode moldar o futuro mais do que a vitória.

O Brasil não está condenado a ser Pindamonhangaba –onde, aliás, Alckmin foi duplamente derrotado no domingo: o candidato tucano e uma sobrinha do governador perderam a prefeitura para um candidato apoiado, entre outros, pelo PC do B.

Os homens fazem a sua história, diz a sentença outrora célebre, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, não a fazem em circunstâncias da sua escolha, e sim naquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.

As circunstâncias com as quais nos defrontamos estão marcadas pelo tropel dos quatro cavaleiros do apocalipse. O primeiro deles derrubou Dilma no laço. O segundo atropelou a esquerda eleitoralmente. O prestes a relinchar inviabilizará os investimentos por duas décadas. O quarto cavaleiro mandará a idade da aposentadoria para as calendas.

Para a direita, os quatro cavaleiros anunciam não o final dos tempos, mas a Restauração. Imposto até o fim, seu programa empurrará a nação 30 anos para trás, invalidará o que foi feito para os pobres a partir de 1988. Para quem já vem levando no lombo, o sacrifício vale a pena porque o Brasil ficará um brinco.

Virá gente de fora para ver as contas públicas; a jornada de 12 horas; o macro-entusiasmo dos rentistas; a eficácia do micro-Estado; septuagenários gramando na roça sem essa moleza de aposentadoria; os mortadelas, por definição preguiçosos e corruptos, devidamente enjaulados. Seremos uma grande empresa –com patrão eleito, uma seleta casta de parlamentares e uma massa de funcionários comemorando a conciliação.

Para a esquerda, a paisagem é ainda pior. Ela não tem projeto, nem método, nem liderança; e o passado recente lhe oprime o cérebro como um pesadelo. Meia dúzia de prefeituras, de Araraquara a Rio Branco, não configura um ponto de apoio capaz de impulsioná-la.

O PSOL, caso venha a eleger Marcelo Freixo prefeito do Rio no segundo turno, parece acanhado diante das tarefas práticas e teóricas que o aguardam. Mas ele é, de fato, das poucas coisas que restaram da ruína da esquerda. Quanto ao PT, ele precisa provar que está vivo e é capaz de reagir.

Poderá começar a fazer isso nesta quarta, quando a sua direção nacional se reunirá. Se o partido se colocar, mais uma vez, na exclusiva condição de vítima, dificilmente conseguirá fazer frente aos dias difíceis que virão.

Se reconhecer lisamente que o segundo mandato de Dilma foi uma catástrofe, e começar a debater porque isso aconteceu, terá alguma chance de ser ouvido e, quem sabe, de voltar a servir de instrumento aos desvalidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário