Um túnel escuro e uma luz
Cid Benjamin*
O campo progressista foi claramente derrotado nestas eleições. Quem acreditava que o desgaste do PT não afetaria a esquerda como um todo caiu do cavalo. Mesmo aquele setor que não apoiou as políticas neoliberais do PT e não se envolveu com corrupção também perdeu terreno na sociedade.
A desmoralização da política fortaleceu o desinteresse dos eleitores, o que ajuda o conservadorismo. Assim, ao lado da direita, outra vencedora das eleições foi a antipolítica. A quantidade de votos nulos, de votos em branco e de abstenções demonstra isso. Em São Paulo, Dória teve 3.085.181 votos. Perdeu para a soma de nulos, brancos e abstenções: 3.096.186. No Rio, Crivella teve 842.201. Brancos, nulos e abstenções foram mais do dobro: 1.866.621. O mesmo aconteceu em todo o Brasil.
Não é difícil explicar esse fenômeno. Quem diria que, depois de 13 anos de governos do PT, que despertaram tantas esperanças, reformas estruturais não teriam sido feitas; a sociedade seria mais conservadora; o caráter laico do Estado estaria mais enfraquecido; e a bandeira da ética teria sido perdida?
Nesse quadro de derrota, o resultado do segundo turno no Rio adquire enorme relevância. Para a direita, a eleição de Crivella e o fortalecimento do fundamentalismo religioso significariam o coroamento da vitória. Para a esquerda, Freixo prefeito seria um alento, diminuindo o peso da derrota.
A chegada do candidato do PSol ao segundo turno já foi uma façanha. Sem TV, e com parcos recursos materiais, sua campanha apoiou-se nos militantes. Na última semana, enquanto seu adversário direto, Pedro Paulo, contou com cem inserções na TV, Freixo teve apenas três. O resultado eleitoral foi quase um milagre.
É fato que a vaidade do prefeito, a escolha de seu candidato e a divisão da direita ajudaram Freixo. Mas a onda criada nos últimos dias foi decisiva.
É a possibilidade de ainda maior crescimento dessa onda no segundo turno que ameaça a vitória de Crivella e dá esperanças a Freixo. Crivella terá a máquina e o dinheiro das igrejas evangélicas, e o peso do conservadorismo na sociedade. Com Freixo estará a energia militante – ainda muito juvenil, mas que pode contaminar a cidade.
Um fato é certo: dia 30 de outubro a escolha será entre mais democracia ou mais obscurantismo.
*Jornalista
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