Makely Ka
Belo Horizonte, MG ·
Não existem apenas dois lados. Precisamos admitir a micropolítica como saída possível. Os pequenos agrupamentos sustentáveis, as iniciativas de subsistência, as organizações comunitárias. Precisamos assumir a possibilidade de decrescimento, de redução das expectativas de consumo, a necessidade de mudança de paradigma no curso da vida em sociedade. Pode parecer utópico, mas é urgente!
A macropolítica apenas reflete o beco sem saída da vida contemporânea. Hoje os dois lados majoritários operam a partir de uma premissa falsa: a crença irrefletida no desenvolvimento progressivo, ao infinito, quando sabemos que os espaços de expansão e recurso estão se esgotando.
As narrativas são aparentemente opostas. Uma liberal, defendendo o livre mercado e o estado mínimo. A outra defendendo a intervenção estatal para garantir minimamente a distribuição das riquezas e a ascensão social de grupos desprivilegiados.
Mas elas se igualam na cegueira diante da impossibilidade de seguir adiante com um modelo falido. A narrativa da direita é claramente calcada na supremacia da economia sobre todas as outras pautas. Gera desigualdade e sofrimento para os mais pobres. Mas a esquerda também erra ao mirar na inclusão social pelo consumo. Não consegue por exemplo enxergar sentido na vida de um indígena, que não produz riqueza para o país, não paga impostos, não está incluído na parcela economicamente ativa da população. Não entenderam nada.
O dilema atual é angustiante: de nada adianta derrubar um governo, seja por via judicial ou manobra política, se o poder vai ficar nas mãos da casta corrupta de sempre. Por outro lado de nada vale manter um governo sangrando na espectativa de redenção sebastianista de um grande líder que virá nos redimir. Não há redenção, não existe mais ninguém com capacidade de apaziguar todos os conflitos.
A lição de 2013, que a esquerda menosprezou, é que a crise de representatividade é patente. Uma reforma política realmente eficaz deveria considerar uma mudança no sistema de representação. Para além do fim do financiamento privado de campanhas, talvez seja hora de implantarmos a Democracia Experimental, onde cada parlamentar só vota em matéria no plenário a partir da consulta prévia e deliberação de toda sua base através de um sistema virtual de votação. Isso representaria uma politização radical da sociedade e a eliminação do voto de representação.
Talvez seja precipitada uma mudança tão radical, mas nosso tempo aqui também não é eterno. Já que estamos no meio da crise mais aguda e sem perspectivas, porque não adotar a saída mais audaciosa?
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