Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 23 de março de 2016

abuso contido: meia volta, volver.

Ainda há juízes em Brasília

Juca Kfouri


A história, aqui contada pelo juiz de Direito Luís Cláudio Chaves está em “O Moleiro de Sans-Souci”, de François Andrieux:

“Em 1745, o rei Frederico II da Prússia, ao olhar pelas janelas de seu recém-construído palácio de verão, não podia contemplar integralmente a bela paisagem que o cercava. 

Um moinho velho, de propriedade de seu vizinho, atrapalhava sua visão. 

Orientado por seus ministros, o rei ordenou: destruam o moinho! 

O simples moleiro (dono de moinho) de Sans-soussi não aceitou a ordem do soberano. 

O rei, com toda a sua autoridade, dirigiu-se ao moleiro: “Você sabe quem eu sou? Eu sou o rei e ordenei a destruição do moinho!”

O moleiro respondeu não pretender demolir o seu moinho, com o que o rei soberano redarguiu: “Você não está entendendo: eu sou o rei e poderia, com minha autoridade, confiscar sua fazenda, sem indenização!” 

Com muita tranqüilidade, o moleiro respondeu: “Vossa Alteza é que não entendeu: – Ainda há juízes em Berlim!!!” 

Entrou na Justiça e ganhou.

Ontem o ministro do STF, Teori Zavascki, fez mais ou menos o mesmo e mostrou ao colega Gilmar Mendes e ao juiz de primeira instância, Sérgio Moro, que as coisas não são como cada um imagina que sejam, que há ritos a serem seguidos, Constituição Federal a obedecer, enfim, leis que nos submetem a todos.

E mandou devolver ao Supremo Tribunal Federal o processo que envolve o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva.

Porque ainda há juízes em Brasília.

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