Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 18 de janeiro de 2015

Contrariando o menino que a rolinha matou. Nessa tem gente até acarinhando a bichinha.

O VEINHO E A ROLINHA

Eduardo Pereira




Tem gente que tem gaiola em casa com passarinho cantando a todos os vapores, como tem gente que cria rolinha em ninho original na sacada de seu apartamento, com tratamento vip. É o caso do veinho. Veinho é como Ubiratan de Assis chama seu grande amigo Beto Montenegro. Ao lado do ninho há uma gaiola, apenas de enfeite, pois a rolinha tem plena liberdade de ir e vir a qualquer hora do dia sem ser importunada. Beto  chama a gaiola de Minha Gaiola Minha Vida.

Se Beto Montenegro acolhe uma rolinha imagina o que ele não acolhe em seu apartamento. Pois pensem! Esse apartamento de Beto é exclusivo para resguardo, além da rolinha, de livros, cds, dvds, muitas fotografias, jornais históricos publicados em Cajazeiras principalmente nas décadas de sessenta e setenta. Beto coleciona de tudo quanto é relíquia de suas viagens dentro e fora do Brasil e que seus amigos lhe presenteiam. Ele tem o privilégio de ter um imóvel exclusivo para arquivo de seu acervo com documentos raros.

Pode ser que Beto abra mão de algum documento para pessoas sérias, mas que não se toque em sua rolinha. A exemplo de José Mauro Vasconcelos que criou um clássico da literatura brasileira, Meu Pé de Laranja Lima, Beto internalizou um O Veinho e a Rolinha. E a bichinha não deve ser novinha não, pois quase todo fim de ano quando vou a João Pessoa faço visita a Beto e sua rolinha se encontra lá como um paxá. Vez por outra, já aqui em Brasília, bato um fio pro Beto perguntando como está sua rolinha e ele dá todos os informes de sua ave.

Penso até que a rolinha conhece o acervo mais do que ele. Aliás, ela é uma espécie de protetora espiritual daquelas raridades todas. Como voar é a praia do bichinho, Beto se apressou em mostrar pra mim, Reudesman, Sales Fernandes e Bira, de quando de nossa visita a ele na semana passada, o bilhete de passagem da empresa aérea que atuou em Cajazeiras na década de sessenta, a Real. Tinha até o carbono original. Ele viajou com sua mãe, Dorinha, como passageiro de colo, para Teresina-PI.

Praticamente todos jornais mimeografados lançados pelos movimentos culturais de Cajazeiras das décadas supra citadas, Beto tem.  A rolinha parece ter incorporado esse espírito de preservação de Beto pois vi em seu olhar recitando o Poeminha do Contra, do inesquecível poeta gaúcho Mário Quintana em que ele diz: “Todos estes que aí estão/Atravancando o meu caminho,/Eles passarão./Eu passarinho”.  Ubiratan, ator à mancheia, passou a mão carinhosamente na rolinha de Beto parabenizando por sua interpretação.

Regado a cerveja e água de quartinha, montilha, cachaça e cerveja a braçadas, Beto serviu o manjá dos paraibanos: rubacão, bodim molim, galo bem cozidim, ovo de pata, e um abacaxizim salpicado de raspa de limão. A conversa rolou solta e Reudim mostrou-nos a boneca de seu livro sobre a história do futebol de Cajazeiras. Todos ficamos encantados com o baita trabalha que  o “pai da matéria” está escrevendo.

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