Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 11 de maio de 2014

CAJAZEIRAS NAS LENTES DO FOTÓGRAFO CAVALCANTE

PRIMEIRO MOMENTO



Por ocasião da realização do 5º Encontro de Cajazeirenses e Cajazeirados em Brasília, transcorrido nos dias dois e três últimos deste mês de maio, em Brasília, organizado pela AC2B – Associação de Cajazeirenses e Cajazeirados em Brasília – tivemos a oportunidade de ver uma exposição de fotos sobre Cajazeiras feitas pelo fotógrafo cajazeirense Jose Cavalcante. A mostra foi realizada no local do próprio evento, no Clube dos Servidores Aposentados da Câmara dos Deputados, a convite da AC2B.

A exposição se dividiu em três etapas. No primeiro momento Cavalcante captou a cidade de Cajazeiras. Suas ruas e prédios tradicionais, a exemplo, como diríamos, do primeiro shopping da cidade, o prédio de Álvaro Marques, que é visto de um ângulo frontal, na diagonal, com sua dimensão arquitetônica inovadora, para época de sua criação. É como se Cavalcante estivesse mostrando o status de consumo da cidade nessa foto colorida exclamativa, como são os shoppings de hoje em dia; o pôr do Sol alaranjado do ângulo da Avenida Presidente Joao Pessoa secundando postes de iluminação elétrica inexistente; o cimo do Colégio Diocesano chama a atenção de qualquer retina, mesmo as mais displicentes; a Praça da Matriz enquadrando o coreto num firmamento anil; a prefeitura municipal esverdeada como que pedindo amadurecimento político; A cúpula da Matriz Nossa Senhora de Fátima com um céu indescritível; a Avenida Padre Jose Tomaz ao cair da noite recheada de motos e destacando a minúscula torre da Igreja Evangélica onde vi, em criança, Saora, o mais famoso padeiro de Cajazeiras, frequentar; a igreja Catedral compondo com o Palácio do Bispo e a Praça Arcoverde agora em uma luz matinal límpida; a rua estreita Coronel Guimarães contrariando o estilo de luz natural anteriores com evidente iluminação elétrica e o céu escuro como pano de fundo; não poderia negar a lente de Cavalcante a tradicional Furna da Onça no Cristo Rei, onde nunca se ouviu falar de existência de onça por lá, mas a triangulação das rochas hiperboliza a fantasia dos visitantes que em criança por lá “artimanharam”. Eis o poder de uma foto de ângulo fechado: abrir nossa memória; não, não, o fotógrafo mor cajazeirense não esqueceu o tradicional pôr do Sol do Açude Grande, que, dependendo do momento pode espelhar matizes fascinantes, e a foto desse momento flagrou luz amarelada, como se fosse a lanterna da cidade; do alto de um primeiro andar, provavelmente, Cavalcante aponta sua máquina fotográfica para a extensão da histórica feira de Cajazeiras e clica detalhes de sacos de legumes com as bocas arregaçadas, rapaduras, panelas de plástico e também de alumínio, distantes do tempo em que eram de barro, e coisas mil. 

Outros tantos momentos da urbe Cavalcante surpreende, evidenciando que é um andarilho nato da cidade, portanto, conhecedor de todos seus quadrantes palmo a palmo, e, sempre empunhando sua câmera torna-se o escultor fotográfico da cidade.

SEGUNDO MOMENTO



Num segundo momento a exposição revela o amante de seu povo, onde Cavalcante faz questão de colher instantes da gente humilde de Cajazeiras. Não são retratadas pessoas ilustres, famosas da cidade. Seu olhar se volta para o pregador evangélico bravo com sua difusora da fé em acordes dissonantes – sim, eu vi a foto, ela me revela isso; Uma senhora idosa amparada em sua bengala sabe-se lá a que se destina; O catador de latinhas praticamente sumido com dois enormes sacos nas costas; o guri em posição vertical em uma cambalhota em dia de chuva captado em clique rápido, a la Henri Cartier-Bresson, o famoso fotógrafo francês; A já conhecida foto de um homem num cavalo vindo e uma moto indo, comprovando o contraste de meio de transportes do interior, o primeiro se extinguindo e o segundo predominando assustadoramente, congestionando as ruas, confirmando-se a opção por uma mobilidade urbana caótica, sufocante e inevitável como se vislumbra o cenário nacional; outros momentos de gente e situações de cenas urbanas Cavalcante alcança com seu olhar treinado instintivamente.

TERCEIRO MOMENTO




O terceiro momento o fotógrafo manifesta-se poeticamente em imagens para cada visitante da exposição acolher do seu ponto de vista estético e sentimental, como a foto das folhas secas esparramadas numa calçada valorizando detalhes aparentemente insignificantes da natureza; a natureza do sertão se faz presente nessas particularidades mínimas expressando que o fotógrafo tem um olhar além da cidade e de seu povo. 

CAVALCANTE, O FOTÓGRAFO


Há vinte e oito anos fotografando Cajazeiras em todas as suas dimensões sociais, culturais, políticas, jornalísticas, futebolísticas, nada escapa de seu olhar repassado pelas lentes de sua inseparável maquina fotográfica. Possui um acervo que daria para se desdobrar em visões temáticas, como casas antigas, ruas, praças, etc e constar de um livro para registro histórico através de leis de incentivo cultural.  
Humilde, educado, batalhador e apaixonado pelo que faz já enveredou pelos bancos da universidade, curso de história pela UFCG, mas entre o conhecimento acadêmico e a sobrevivência cotidiana teve que optar forçosamente pela segunda opção, não em definitivo, pois pretende dar continuidade a seu curso via à distancia.  

Praticamente hoje em dia qualquer pessoa tem sua maquinazinha fotográfica – até no celular -, mas fotógrafo, com a preocupação do registro histórico, jornalístico, Cajazeiras tem apenas três, e Cavalcante é  destaque. 

Surpreendeu-me, e a muitos daqui de Brasília, saber que esta exposição não havia ainda sido apresentada à cidade de Cajazeiras, sendo, portanto, Brasília, pioneira. Mas acreditamos que haverá interesse da Secretaria de Cultura Municipal de Cajazeiras, ou da UFCG, em fazer uma exposição com um tempo mais elástico para constar do calendário cultural da cidade, e, quem sabe, ser levada também aos conterrâneos de Joao Pessoa e Fortaleza.
Eduardo Pereira é cajazeirense residente em Brasília, graduado em Biblioteconomia pela UnB – Universidade de Brasília, e pedagogia, pela Unidf – Universidade do Distrito Federal. Foi presidente da AC2B, gestão 2012-2013, e é seu atual secretário.
E-mail: dudaleu1@gmail.com 

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