A vitrine petista no Nordeste
11/12/2012
O prefeito eleito Luciano Cartaxo tem demonstrado, em atos e discursos, a obstinação de tornar João Pessoa a vitrine petista no Nordeste. A conjuntura lhe impõe esse desideratum. Afinal, foi o único prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores no contexto das capitais da região, superando, inclusive, o feito que a legenda não conseguiu viabilizar no Recife, onde a liderança do governador Eduardo Campos sacramentou a vitória de Geraldo Júlio, até então desconhecido do universo político local. Em Fortaleza, também, o PT ficou a ver navios. Sobressai, então, a capital paraibana, que deve ser motivo de orgulho para a cúpula nacional e para a própria presidente Dilma Rousseff.
No discurso emocionado que proferiu, ontem, por ocasião da diplomação, Luciano Cartaxo relembrou a importância emblemática da vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da sua campanha no segundo turno, quando a candidatura própria do deputado sousense mas com raízes em João Pessoa demonstrou potencial de credibilidade e empolgou de vez a militância. A presidente Dilma, empenhada, por força do cargo, em conciliar aliados que se enfrentavam, desprezou a chance de vir a João Pessoa. Não fez falta. Mas será decisiva para que o projeto de Cartaxo de viabilizar a "vitrine petista" na capital paraibana se torne realidade.
Já se falou, em outras ocasiões, da habilidade de Cartaxo em conciliar apoios políticos e se impor em meio ao fogo cruzado de facções internas que apostaram numa miragem - a vitória da candidata do PSB, Estelizabel Bezerra. Ainda hoje, expoentes petistas como Luiz Couto e Júlio Rafael têm dificuldade em dar a mão à palmatória e reconhecer o talento de Cartaxo na articulação política que o levou a saltar para um segundo turno confuso, deixando no meio do caminho protagonistas como o ex-governador José Maranhão, o senador Cícero Lucena e a neófita candidata Estelizabel, que tinha, como compensação, o apoio incondicional do governador Ricardo Coutinho. Couto, Júlio Rafael e outros menos cotados, que menosprezaram o potencial de Cartaxo, ficaram na contramão dos fatos e, consequentemente, pouco à vontade para atender aos acenos de unidade que o prefeito eleito formulou reiteradas vezes, mesmo quando tinha a consagração nas urnas como favas contadas.
Erro de cálculo deles, e, também, falta de humildade. Ou falta de grandeza para encarar objetivamente as situações delimitadas pelo eleitorado, o verdadeiro senhor das urnas e dos números que trucidam ou elevam pretensões. Cartaxo continua com o espírito desarmado, aberto a colaborações, ainda que não possa, num primeiro momento, por razões óbvias, acomodar indicados dos que lhe fizeram oposição cerrada dentro das próprias fileiras de um agrupamento a quem sempre demonstrou lealdade.
Já aliados de ocasião, como Luciano Agra e Nonato Bandeira, têm tido posturas diferentes nessas horas que antecedem a investidura triunfal de Luciano Cartaxo na prefeitura de João Pessoa. Agra foi importante para oxigenar o processo de candidatura de Cartaxo, mas não pode se arvorar, sozinho, de ter sido o elemento definidor. Infelizmente, engolfado por idiossincrasias particulares, arriscou uma queda de braço em torno da permanência da guerreira secretária de Saúde, mesmo adivinhando os contornos difíceis de assimilação do pleito por parte do sucessor. Faz parte do "estilo mercurial" que Agra adotou durante todo o processo político-eleitoral deste ano. Nonato Bandeira, mais maleável e conciliador, mesmo tendo dado o tiro de misericórdia no racha do antigo Coletivo Ricardo Coutinho, ao emprestar o PPS, legenda a que é filiado, para fazer parte da coligação, tem outra forma de agir diante dos fatos consumados. Em todos os pronunciamentos ou declarações que verbaliza, Bandeira deixa claro o respeito pessoal à autonomia do prefeito eleito Luciano Cartaxo, e não poderia ser diferente.
Ele sabe que terá sua quota, previamente assegurada desde que foi aceita a sua inclusão como candidato a vice, o que lhe permitiu realizar um sonho: o de ingressar na militância política-partidária. O vice eleito vai manter, de público, a postura que a liturgia do cargo lhe impõe. Se tiver que aprontar, fará isto nos bastidores. Mas é de supor que ainda haja exemplo de lealdade ou reciprocidade no jogo político. A postura de rompimento que Bandeira adotou com o governador Ricardo Coutinho foi entendida, e digerida. Mas qualquer travo na relação com Cartaxo, de largada, não terá eco junto à opinião pública. Desse segmento, Bandeira entende muito bem. Resta, enfim, uma expectativa que se traduz num desafio: o teste de Cartaxo como administrador. Até aqui ele foi testado para valer em mandatos legislativos. Não conta muito ponto a sua passagem pela vice-governança, a não ser para efeito de currículo, já que foi sufocado pela centralização exercida com mão de ferro por Maranhão e pela atipicidade da conjuntura em que assumiram, em meio ao desfecho de uma batalha judicial que surrupiou o restante do mandato de Cássio Cunha Lima. Como prefeito legitimado pelas urnas, em dois turnos, Cartaxo vivenciará seu aprendizado. E ao mesmo tempo revelará se tem vocação ou dotes para administrar. Pois uma coisa é fazer política, outra coisa é administrar, tomar decisões, saber fazer o uso correto da caneta. Por enquanto, a expectativa é plena de otimismo. Adelante, então!
é jornalista. Colunista político, atuou nos principais jornais da Paraíba e no Estado de São Paulo. Foi superintendente de A União. Lançou este ano o livro "A Fala do Poder", com discursos de governadores eleitos da Paraíba. É diretor de Redação do REPORTERPB. E-mail para contato: nonaguedes@uol.com.br
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