Meu acidente
Eduardo Pereira
O QUÊ? Acidente de dois automóveis. QUEM? Com o cajazeirense Eduardo Pereira, presidente da AC2B. QUANDO? No dia 30 de agosto, por volta das 07:30. COMO? Invasão de pista por parte do motorista do outro automóvel. ONDE? Em Brasília, próximo a residência de Eduardo. PORQUÊ? O condutor do carro que bateu no de Eduardo não se lembra de nada.
A princípio essas seriam as perguntas que a notícia divulgada pela imprensa deveria responder sobre meu acidente. Não sei se essas perguntas basilares ainda fazem parte das primeiras aulas dos cursos de jornalismo. Ou se já fizeram parte alguma vez. Ou se são apenas um jargão.
Estava eu indo trabalhar quando, de repente, não mais que de repente, vejo apenas o enquadramento de um para-brisa e um capô e mais um espectro humano crescer aos meus olhos. Nem ao menos a ação de desviar-me, num átimo, me foi possível. Só senti um forte impacto provocar-me a falta de ar, me sufocando, e eu buscando desesperadamente pela respiração um filete de ar. Calculo que por uns vinte segundos, ou um pouco mais, me vi deblaterando por qualquer ar. Penso que a expressão de meu rosto ficou parecida com aquela do quadro de pintura de Munch, em O Grito, mas sem gritar.
Restabelecido o ar, me vi importunado por dores em meu braço esquerdo, que estava angustiando-me severamente, mesmo que eu fizesse algumas massagens e o movimentasse flexionando constantemente. Estava sentindo uma espécie de, como a gente diz lá em Cajazeiras, um ‘frivião’..
Tentei abrir a porta de meu lado, mas não consegui. Como em tudo quanto é acidente automobilístico aparece muita gente instantaneamente, dando a impressão que esse mundaréu de gente estava só esperando ocorrer o acidente pra dar uma checada. Pedi a algumas pessoas pra abrir minha porta, e alguém conseguiu depois de um solavanco.
Coloquei minha perna esquerda pra fora do carro, peguei o celular no bolso direito de minha calça e liguei para Maurinete, minha esposa, e fiquei aguardando sentado. Não saí do carro, continuei sentado a espera do Corpo de Bombeiros ou Samu, como se recomenda a boa prática. É que você pode correr o risco de desconjuntar sua estrutura óssea.
Como estava perto de casa, Maurinete logo chegou, já chorando, e eu a consolei, que se acalmasse porque estava tudo sobre controle. Disse ela, mais tarde, que eu estava pálido. Enfim, consegui acalmá-la para que agilizasse medidas a se tomar e aí chegou o Corpo de Bombeiros.
De onde eu estava, sentado, fazendo a ligação para Maurinete, observei o motorista do outro carro, imóvel, provavelmente inconsciente, o rosto ensangüentado. Curiosos o observavam e a mim também. Um colega vizinho nosso de residência, que auxiliou Maurinete a dar rumo a minha situação, disse-me que choveu de gente batendo fotos e filmando. Era o flagra, a tragédia, o sangue, a emoção do choque, que correria facebook espaço cibernético adentro. É natural que haja essa curiosidade humana.
O sujeito que bateu em meu carro, antes deu um totozinho no carro que estava a minha frente. Coisa boba. Quase nada. Ou seja, por questões de segundos a frente, ou atrás, teria eu escapado do acidente e sobraria fatalmente para o carro em minha dianteira ou traseira. Mas o destino falou que eu é que deveria ser, digamos, o “sortudo”.
Fui socorrido pelo Corpo de Bombeiros, que fez todos os procedimentos de imobilização de meu corpo em uma maca, afivelando-me em talas com velcro, de forma profissional e eficiente, levando-me para o Hospital de Base de Brasília em ambulância. A sirene ligada, abrindo o trânsito. Maurinete foi comigo. Um bombeiro também estava conosco, pedindo para eu movimentar meus pés e mãos, braços, para saber se eu estava com alguma seqüela.
Para testar meu estado de consciência o bombeiro vai fazendo-me perguntas tipo: “tem alergia a algum medicamento? Como é seu nome?, etc”. Faz mais uma pergunta: “Já teve alguma doença grave?” Eu: “Não”. Mais outra: “Qual time você torce?” Eu: “Vasco da Gama”. Ele: “Ué, você acabou de dizer que nunca teve doença grave!”. Risos.
O outro motorista teve que ser resgatado pelos bombeiros rasgando a porta de seu lado. Ele foi levado de helicóptero. Quebrou o fêmur da perna esquerda e quebrou o braço, também esquerdo, e estava inconsciente.
No hospital fiz radiografias e ficou constatado que não quebrei absolutamente nada. Mas fiquei com o corpo todo dolorido, principalmente o tórax. Acredito que foi devido ao impacto do air bag que explodiu para me proteger. Graças ao air bag é que não tive nada. Julgo. E ao cinto de segurança também. Fiquei com hematomas nas partes do corpo por onde passa o cinto de segurança. Nada grave.
No hospital chega dois colegas meus de trabalho. Deitado na maca, e com o celular, vou falando sempre com Maurinete e outras pessoas. Um desses colegas meus de trabalho fala-me que a notícia do acidente já está no Correioweb – jornal Correio Braziliense, de Brasília. Peço pra ver e ele me mostra a foto do acidente. Em menos de uma hora – muito menos do que isso - a notícia espalhou pela internet.
O celular toca. Atendo. É Neném de Eudes Cartaxo. Depois Lavoizier de Teotônio. Depois Max neto de Zé Biquim, Jane Pires de dona Ica. Mais um pouco e agora é Bira. Tranquilizo-os. Tínhamos reunião da AC2B naquele dia. Falo pra cada um deles: “Fique tranqüilo, que a noite a gente se encontra e vamos tomar aquela cerva gelada para bebemorarmos a nossa saúde!”.
Volto ao primeiro parágrafo, lá em cima. O texto da matéria sobre o acidente publicado com foto, no Correioweb, diz que a porta esquerda do lado do motorista que me bateu, foi arrancada com a violência da batida. Como falei num parágrafo aí acima, foi o bombeiro que cortou para resgatar o sujeito lá.
O que não ficou tudo bem foi a informação que preocupou todo mundo que me conhece: meus amigos, familiares, conterrâneos, amigos de trabalho, e por aí vai. O complemento da notícia foi de que os dois acidentados estavam em estado grave e inconscientes. Isso mesmo. Eu, então, estaria em estado grave e INCONSCIENTE! A máxima daquelas perguntas do início do texto, estavam furadas.
Como se diz, notícia ruim corre rapidinha. “Em estado grave e inconsciente” foi o alarme geral. Os blogues, sites, e-mails, facebooks, as rádios de Cajazeiras, o boca-a-boca correu solto reproduzindo a notícia do Correio Braziliense.
Cheguei em casa as quatorze horas, e não fiz mais nada a não ser atender o celular e o telefone fixo por três dias, todo mundo querendo saber como eu estava. Tive que repetir, pacientemente, para atender com carinho todo mundo.
Meu amigo jornalista Sales Fernandes, de João Pessoa, disse que o Bispo de Cajazeiras já tinha pedido às pessoas para fazer uma corrente de oração para mim. Em estado grave e inconsciente estava o outro motorista. Mas agora era tarde. A notícia mal dada dá (percebi o cacófato) nisso: desespero geral.
E hoje, quais as seqüelas do acidente em mim? Nada. Não, não fiquei traumatizado. Já estou dirigindo e acelero normalmente, de acordo com o que a pista me ofereçe: 60, 80, 100, 120 km. Sem lero-lero.
Agradeço aos que me telefonaram: De Zé Filho em Rondônia a Claudiomar em São Luís do Maranhão; Do pessoal de Cajazeiras (Rigonaldo, Osvaldo Martins, meus familiares...) a Bernadeth e Lourdinha em São Paulo; De Rigoberto em Fortaleza a Nonato Guedes em João Pessoa; De Brasília, nem se fala: é tanta gente boa! De todos os quadrantes agradeço, mais uma vez, a todos.
Estou pronto pra próxima. Não, não, não! Não estou pronto pra próxima coisíssima nenhuma! Isso foi erro de digitação.
Observação: a TV Capital, de Brasília, costumeiramente fazendo cobertura sobre o trânsito da cidade, flagrou o pós acidente e registrou meu resgate. São nove minutos de filmagens. O endereço eletrônico, para quem quiser ver, é: www.R7.com.br/distrito federal/DF no Ar/30.09.2012/Dois carros batem de frente e três pessoas ficam gravemente feridas. Parte 1 de 2.
Meu carro |
O outro carro |
Eduardo Pereira.
Presidente da AC2B
E-mail: dudaleu1@gmail.com
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