O advogado Deocleciano Maniçoba, pai do meu amigo Kérson, tinha um escritório ao lado da Praça da Igreja Nossa de Fátima, no sentido de quem ia para o Açougue Municipal. Certo dia seu pai não foi trabalhar e Kerson me convidou para passarmos trote nos taxistas da Praça dos Carros. Como Kerson sabia os nomes dos vizinhos do escritório, com a porta e as janelas fechadas, ligou para a Praça dos Carros e solicitou um taxi em nome do vizinho do escritório. Ficamos olhando pela fresta da janela, em silêncio, e minutos depois chegou o taxi. O taxista buzinou, buzinou e buzinou. Como não apareceu ninguém, ele desceu do taxi, bateu palmas e saiu uma senhora com a cara de enfezada e perguntou: “pois não, moço!” Ele falou pra ela: “estou à espera da senhora que solicitou o taxi”. Ela disse: “aqui em casa ninguém pediu taxi”. O taxista disse: “mas que diacho! Quem teria ligado pedindo o taxi!” Ele entrou no taxi e mais enfezado saiu cantando pneus. O trote funcionou. Caímos na gargalhada.
RISCOS DE GIZ
Em um artigo que escrevi sobre uma fuga que eu, Kerson Maniçoba e Dedé Cabôco planejávamos para morar no Rio de Janeiro, no final de 1971, ficamos conhecidos no Colégio Estadual, onde estudamos, como os “Cariocas”. A partir daí, Kerson, com giz, escrevia em lugares diversos do Colégio Estadual, “Os Cariocas”. Ele escreveu essa frase até no telhado interno do pavilhão do Colégio Estadual subindo nas cadeiras. Certo dia, o então diretor do Estadual, Dr. Antônio Quirino de Moura, foi ao pavilhão dar uma palestra para os estudantes. Durante a palestra, em certo momento, Quirino olhou para o telhado, percebeu a frase “Os Cariocas”, e com um leve sorriso, balançou a cabeça como se dissesse: “não tem jeito para ‘Os Cariocas’ ”.
FUGI DO CASTIGO
Quando eu estudava no Grupo Escolar Dom Moises Coelho, dona Angelina Tavares era a diretora. Ela era linha dura e os alunos tremiam de medo quando ela os chamava para o castigo, que era ficar de joelhos, em uma salinha, ao lado da Secretaria. Para entrar nessa salinha, o acesso era feito pela Secretaria. Certo dia, eu brincando de correr com colegas, peitei de frente num menino, ele caiu no chão e saiu chorando. Ele não se machucou, mas dona Angelina me colocou de castigo na salinha e me falou: “Quando terminar o recreio você volta para a sala”. Terminou o recreio, as aulas recomeçaram e eu lá de castigo. Ela me trancou na salinha e esqueceu de me liberar para as aulas. Mais ou menos após meia hora depois pulei a janela e fui embora. No dia seguinte ela me deu uma tremenda bronca e me disse: “quando terminou as aulas fui até a salinha e você não estava mais lá, por isso vou te dar três dias de suspensão”.
RAPAZES ALEGRES
Nos anos sessenta, em Cajazeiras, alguns jovens da cidade, por serem diferentes de outros jovens, chamavam a atenção das pessoas no modo de conversarem, na maneira de se expressarem, no jeito de andar, muito educados e eram reservados conforme o modo de vivencia deles. Lembro-me de Normando de seu Gabriel, que era zarolho. Ele gostava de usar calça justa Us Top, camisa xadrez, botas de cano longo, óculos escuros, um chicote na mão e por anda passava chamava a atenção das pessoas, porque sempre estava cavalgando pelas ruas de paralelepípedos de Cajazeiras, sob o sol forte de 35 graus. Ele morava ao lado da fábrica de colchão Guanabara, de Nairton Claudino, na Rua Juvêncio Carneiro. Lembro-me ainda de Hélio de seu Antônio Andrade. Ele era um galeguinho de olhos verdes, cabelos compridos, lisos e tinha o rosto com aparência de uma menina, e morava na Rua Padre Rolim. Lembro-me também de Buguinha, de seu Heliodóro, que morava na Rua Padre José Tomaz, ao lado da casa de Zuíla e Delmira de seu Zé Capitão. Ele gostava de jogar futebol de salão (Futsal). Tinha ainda Marcos de dona Querobina. Ele era gordinho e quase não falava com ninguém por ser muito tímido. Lembro-me também de Getúlio de seu Zé Palmeira e ainda de Otacílio de seu Zélizeu, entre outros.
FOGUEIRAS DA RUA PEDRO AMERICO
Na era de 60, na época das fogueiras juninas, moradores da minha rua (Pedro Américo), se organizavam para comemorar os festejos de São João. Lembro-me muito bem que as mulheres preparavam as comidas típicas, principalmente à base milho, a exemplo dos bolos, canjicas, entre outras guloseimas. A tarefa das mulheres era mais ou menos assim: mamãe fazia bolos; dona Janoca de seu Bernardo Batista fazia doces; dona Mocinha de seu Zé Cartaxo, cozinhava milho verde; dona Lilia de seu Esmerindo Cabrinha preparava a pipoca; dona Chica de seu Zé Nô fazia canjica; dona Bilinha de seu Antônio Guedes fazia pé de moleque; dona Joaninha de seu Vicente saxfonista fazia pamonhas; dona Teresinha Cavalcante de seu Augustinho fazia arroz doce; dona Odília, preparava o quentão; dona Jardilina fazia cocadas de diversos sabores; os rapazes providenciavam a cachaça Pitú e a Carangueijo e assavam batatas doce na fogueira. Já os homens preparavam e acendiam a fogueira, enfeitavam a rua com bandeirolas fixadas ao longo da rua, colocavam as mesas lado a lado com cadeiras no meio da rua, providenciavam fogos de artifício para a queima dos mesmos. Os meninos e meninas soltavam traques, chuvinha e mijão. Adultos e crianças vestiam camisa xadrez, calça remendada e chapéu de palha. A festa era animada com músicas juninas cantadas pelo Rei do Baião Luiz Gonzaga e outros sanfoneiros, através dos discos de vinil LP (Long Play) tocados na radiovitrola, que ficava instalada na calçada da casa de seu Bernardo Batista.
PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasília
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