Em tempos de Teatro de Cajazeiras, republico texto que escrevi em 2010.
Sales Pereira, meu irmão, quando era jovem foi assistir a uma peça de teatro, aí pelo início da década de sessenta, em Cajazeiras e, ao ver a representação dos atores ficou admirado com o mundo do teatro. Ficou observando o cenário, a veracidade com que os atores imprimiam a seus personagens, a tal ponto que saiu da sala do espetáculo martelando uma idéia. Matutou, matutou, e amadureceu a idéia de também ser um ator. Por que não? Pelo que viu não é algo transcendental.
É verdade que nunca tinha lido um texto se quer sobre a arte de representar, de Stravinsk, do teatro do oprimido de Augusto Boal também não, ou qualquer texto sobre o palco. Aliás, para não dizer que era um zero à esquerda, já ouvira sim, alguma referência ao teatro nas aulas de história no Colégio Diocesano sobre o teatro grego, mas isso era um papo elevado para sua iniciação. Era melhor se concentrar nos primeiros passos aqui em Cajazeiras. Menos mal.
Só lhe restava procurar o pessoal que fazia teatro e meter a cara na realização de seu sonho. Não pestanejou e procurou Marcos Bandeira, funcionário do Banco do Brasil, que fazia teatro. Explicou ao Marcos que estava interessado em fazer teatro, acreditava que teria capacidade para tal. Pelo menos boa vontade lhe transbordava. Marcos agradeceu-lhe por tê-lo procurado porque exatamente ele e um grupo de amigos estavam montando uma peça e estavam procurando um ator para fechar o elenco. Sales veio a cair como uma luva para o Marcos e vice-versa.
Não se contendo de curiosidade Sales já quis saber qual era o seu papel nessa peça. Seu já agora diretor começou a dar uma explicação geral sobre a construção do texto a trabalhar, fez algum rodeio, para Sales, que queria saber logo qual era seu papel a representar. Não agüentava mais com tanto lero-lero de Marcos Bandeira, que, enfim, disse-lhe que o seu papel seria a de um viado.
Para não assustar Sales, Marcos argumentou que o teatro era isso, ele teria que ter essa capacidade de vestir a roupa da vida de uma personagem que hoje poderia ser um galã, amanhã poderia ser um viado.
Sales traquilizou Marcos Bandeira de forma surpreendente, pois argumentou que, quem quer fazer teatro tem que ter desprendimento e encarar qualquer papel. Se essa era a causa que ele queria abraçar, então não teria que escolher personagem x ou y.
Então tudo bem. Marcos Bandeira marcou um dia da semana para se encontrarem com o grupo e já começarem os ensaios. Depois que Marcos deu as costas baixou um calafrio psicológico em Sales que começou a pensar que ele estaria sujeito a receber dedadas no seu fiofó por conta desse papel. Sem contar que, dependendo da temporada a apresentar, teria que aturar um sujeito metendo o dedo no seu frinfa toda noite.
Definitivamente Sales não estava preparado para a arte de representar, e, até hoje, Marcos Bandeira espera Sales para os ensaios.
Eduardo Pereira.
Sales Pereira, de camisa listrada, com o primo Paulo Setúbal. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário