Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

quarta-feira, 30 de março de 2011

CARNAVAL EM MINHA INFÂNCIA

Marcha dos carnavais dos anos 60! "é dos carecas que elas gostam mais" - Os carecas da AC2B - Lavor e Eduardo!


Apesar de ter já passado o carnaval, recentemente, catuco minhas memórias e falo de
meu carnaval infantil.
Por aí, meados da década de sessenta. Eu era guri, e o carnaval em Cajazeiras era vivenciado em sua plenitude. O clima de carnaval não era pelo longo feriado escolar que usufruiríamos, mas pela festa em si. Minha mãe confeccionava uma roupa colorida, comprava óculos de plástico todo fechado em volta dos olhos, de cores variadas, presos por um elástico em volta da cabeça. Comprava chapéu de palha todo colorido, apito, chiringa, máscara de papelão, serpentina e outros badulaques mais, e aí estávamos paramentados, tudo muito simples, coisinhas baratas, para irmos à matinê no Clube 1° de Maio ou do Tênis Clube, pela manhã, porque a noite era a vez dos adultos se refestelarem.
A orquestra tocava as marchinhas populares em todo o Brasil, e todos cantavam. Ficávamos dançando rodeando o salão, o calor tomando conta e derretendo as pinturas dos rostos da petizada.
A tarde íamos para a Praça João Pessoa vermos os blocos de homens fantasiados de mulheres e outras presepadas mais, todos mamados de cachaça, soltando a franga de forma galhofeira. Logo a seguir víamos as escolas de samba de Cajazeiras, mas a principal era a de João de Manezim, que vinha descendo da Praça Camilo de Holanda até a Praça João Pessoa já puxando um bocado de gente em sua rabeira. Inesquecível o refrão de uma marchinha composta por João. Ele cantava a primeira parte e o resto da escola respondia. João: “o que é que o pobre rói?”, e a escola respondia: “pobre só rói osso, pobre só rói osso!”
Marcante também era o barulho do cano de escape dos jeeps – popular à época. Retirava-se uma peça lá e a cada acelerada que o motorista dava o bicho soltava um barulho pipocante em bons decibéis. Nós, crianças, não podíamos ouvir seu barulho que corríamos para nossas mães para falar: “olha, mãe, lá vem um carnaval!”. E a forma exagerada de jeep que fazia isso era o jeepe de João Rodrigues, proprietário da Viação Andorinha. Tomado de uísque, dirigindo seu jeep, sem capota, pipocando ao máximo, saía ele fazendo pirutetas pela cidade, mas seu ponto alto de exibição, de perícia, mesmo mamado de uísque, era no espaço da rua entre as esquinas da casa de Sinval do Vale, na Pedro Américo, a Escola Pedro Américo – mais conhecida como EPA! - , a casa de Dr. Júlio Bandeira, e a esquina do Prédio São Vicente, onde foi o cine Pax. O jeep ficava rodando de forma veloz, em círculo, fumaçando, pipocando, e um monte de gente nas calçadas vendo e gritando, aplaudindo João Rodrigues. De repente, feito o espetáculo, saía ele em disparada rumo a ladeira do cemitério ou rumo ao lado oposto, para a Praça João Pessoa. É o que seria hoje o famoso “racha” feito pelos boyzinhos. Era pura adrenalina aos olhos infantes.
Um negócio que a maioria da gurizada se pelava de medo era o jaraguá, que se constituía de um homem com caveira de cavalo na cabeça e camisolão até os pés, guiado pelo dono, e que dá passos e arremetidas à frente dos músicos que lhe acompanha. Se algum menino fizesse alguma estripulia e não quisesse se comportar direito, era só a mãe falar : “ah, é! Então eu vou chamar o Jaraguá!” Pronto, era a continha pro moleque ficar um santo.
É a pura verdade: quando crianças, no carnaval, em Cajazeiras, nós embebíamos nossos lenços, brancos, de lança-perfume, e aspirávamos numa boa. Era normalíssimo! Os pais consentiam e nunca ouvi falar de que alguém tenha ficado dependente ou virou marginal por esse motivo. Também, passou a época de carnaval e esquecíamos isso. Tudo era festa.

Eduardo Pereira
E-mail: dudaleu1@gmail.com

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