Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Paraíba - I

Em junho de 2007 estive em João Pessoa para participar da formatura de minha sobrinha Perpétua Emília, que se tornara enfermeira. Remexendo alguns papéis em gavetas descobri dois textos que escrevi sobre essa viagem, quando cheguei aqui em Brasília. São textos escritos no calor de bohemias, sem eira e nem beira, como os demais que aqui já escrevi, mas mesmo assim resolvi publicá-los agora, mesmo sabendo que estão fora de contexto. Vejam:


Semana passada estive em João Pessoa, fui à formatura de minha sobrinha/afilhada Pepé, curso de enfermagem. Fico doente de paixão mais ainda quando piso o solo és mãe, gentil, estado amado, Brasil.
 
Chamei Pepé e me dispus a ser cobaia para ela ver minhas veias culturais abertas da América paraibana. Já estava degustado de cevada gelada e solicitei que auscultasse meu coração rasgado, e sei que não tenho o talento de Paulo Pontes de safena mas fui alimentado em minha formação genética de angu com leite, tapioca, rapadura...
 
Pepé veio medir minha pressão e ela constatou que o mundo louco do poeta Zé Limeira, poeta do absurdo, estava impregnado em meu estado febril textual (pretensão falsa, só pode ter sido o efeito etílico).
 
Que a gramática acadêmica e minhas duas graduações sejam jogadas num riacho doce, mas antes elas sejam enroladas como um rolo de fumo de maica boró. Até porque eu nunca preguei na parede esses diplomas recheados de filosomia, filanlumia e pilogamia.
Quem quiser saber o significado dessas palavras se dispam de seus mestrados e doutorados e se aventurem na rima de Zé Limeira, onde as palavras ganham lima, e quem se assustar com seu estilo encantador tome logo água com açúcar que a dor não vai passar. Ficará estático com a estética dos garranchos da caatinga.
 
Vou à banca de jornais e vejo que tudo quanto é periódico tem suplemento pelos oitentanos de Suassuna. Constatei também que as folhas sulinas se renderam ao paraibano que teceu as rendas da pedra angular do reino divino maravilhoso. Engoli de uma talagada só a União do Correio do Norte e, pra não quebrar a regra, dei uma goipada de sopa de letrinhas no pé do balcão de um boteco inchado de pés inflamados, que me deu toda liberdade de naufragar a esmo pelo mundo destambocado limeiriano.
 
"Tio Dudu", falou Pepé, "ainda tem os jornais do galo de Campina Enorme e dos Arrecifes pra você se atualizar com o país de são saruê". "Minha filha", respondi-lhe, "você não sabe como nasce um cabra da peste, sabe não? Eu dou conta de me informar de tudo quanto é bagaceira almeidiana. Se eu me cansar, não me aplique meisinha não, reze umas orações de Frei Damião porque eu num tô afim de ser um cabra marcado pra morrer não, ouviu, minha menina? Ou se não, tasca umas canções de Vital Farias e Faz, Cátia França Portugal e Paris..."
 
Lembrei-me que estou num mundo globalizado e por isso vejo muita moto pelas ruas de João Pessoa. Onde estão os jumentos? Onde estão aqueles toletes de titica da jumentada no meio da rua? (Não me contestem, aqui em Brasília todo dia os catadores de papelões passam ao lado do Congresso Nacional com suas carroças puxadas por burros). Num bar próximo ao Hotel Tambaú vejo reunidos dezenas e dezenas de motoqueiros profissionais, uma trupe de estradeiros, coletes acaveirados.
 
João Pessoa não é Cajazeiras, minha terra, que não é São José de Piranhas, que não é Monte Horebe, que não é o Sítio Rita, que é a origem de meus pais. O mundo globalizado engoliu Taperoá nos pixels super coloridos da Globo, mas graças a meu Padim Ciço e aos rosários tirados por Frei Damião o impressor Gutemberg salvou o papiro de Ariano.
 
Pare de beber tanto na fonte cultural paraibana, tio Dudu, advertiu minha sobrinha, você vai ficar bêbado e perderá minha festa do baile de formatura. Respondi-lhe que qualquer gramatura literária, musical – paraibana - etecétera e tal, será minha cachaça Vital.
Amanhã publico a parte II.

Eduardo Pereira. E-mail: dudaleu1@gmail.com

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