Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DR. WALDEMAR E A TRAIÇÃO DA MEMÓRIA

   Jeanne Pires - Diretora da AC2B e filha de Dr. Waldemar - ladeada de amigos Beto, Uiara e J. Manezin


Humildemente presto também minha homenagem ao Dr. Waldemar, que era médico de minha família, como de toda família cajazeirense. O texto a seguir já foi publicado neste blog em novembro do ano passado. Eis:

DR. WALDEMAR E A TRAIÇÃO DA MEMÓRIA – 05.11.10

Doutor Waldemar Pires, médico cajazeirense que a lembrança da cidade não esquece,  tinha um traço característico muito conhecido em Cajazeiras, que era a memória traiçoeira para as coisas do cotidiano. Jamais a inerente à consolidação de seu saber como médico. A traição que a memória nos impinge, a qualquer ser humano, e Doutor Waldemar não era exceção. A memória, às vezes nos trai e faz-nos passar por situações cômicas. Eis algumas situações, de esquecimento, e outros fatos pelos quais passou Doutor Waldemar:

• Participando de atividades políticas, em campanhas, Dr. Waldemar subiu ao palanque para fazer discurso defendendo seu candidato e metendo a ripa em seu opositor. Conclamava ao povo de sua terra para que não desse seu voto àquele candidato, e assim se expressava:
Dr. Waldemar: - “Conterrâneos, peço a todos vocês que não se aliem àquele senhor do INPS! Porque, em toda sua vida de INPS, ele não fez nada de concreto para o povo de nossa cidade. O INPS é...”.  Alguém vai até o pé de ouvido de Dr. Waldemar e fala: - “Dr. Waldemar, não é INPS, é MDB!”.

• Certa feita Dr. Waldemar recebe um telegrama (meio de comunicação mais usual na época) de Sousa. Era um parente seu solicitando-lhe para ir até lá receitar sua prima – de Dr. Waldemar. Ele foi, realizou a consulta, fez as recomendações devidas e a paciente agora estava tranqüila. Dois dias depois, estava sossegado em casa, e, de repente, lhe bateu uma dúvida danada. A dúvida era se ele realmente havia prestado atendimento à sua prima em Sousa. Para acabar sua suspeita foi até o Correio e mandou um telegrama para seu parente: “Fulano: tenho dúvida se receitei a prima. Avisar urgente”. Em pouco tempo a resposta de seu familiar bateu-lhe a porta. Dr. Waldemar abre o telegrama-resposta com o seguinte texto e lê: “Waldemar, se receitou, não lembro”.

• Uma “senhora da cidade” (para efeito de não identificação, vamos chamar assim) costumava receber em sua residência, em Cajazeiras, parentes seus de sítio próximo a Cajazeiras. Era gente da roça, gente humilde, em muitas situações, não esclarecida. Um belo dia aparece uma “prima da roça” (também, para efeito de não identificação, chamemos assim) querendo fazer uma consulta médica, pois achava que não estava se sentindo bem. Queria fazer uns exames ginecológicos. A “senhora da cidade”, conhecendo a competência de Dr. Waldemar, não teve dúvidas. Falou para a “prima da roça” que iria lhe levar ao médico de sua confiança, e isso tranquilizou a “prima da roça”. Marcada a consulta, Dr. Waldemar estava lá para fazer o exame ginecológico. A paciente já estava na cama, na posição de pernas abertas para o médico examinar a vagina, quando Dr. Waldemar vai examinar, dá de cara com uma situação inusitada. A vagina da “prima da roça” parecia a Amazônia em seu estado primitivo. Sim, no estado primitivo da Amazônia, de mata fechada, não como o atual estado onde grande porcentagem está desmatada. Dr. Waldemar não sabia se aquilo era uma vagina ou a cabeleira de um transviado, que era como se dizia dos rapazes cabeludos dá década de sessenta. Dr. Waldemar chamou a “senhora da cidade” e lhe falou: - “Olhe, “senhora da cidade”, não tenho condições de fazer exame algum. Tenho que saber, em primeiro lugar, quem é quem aqui”.

• Dr. Waldemar teve um período que dava aulas de química no Tiro de Guerra. Chegava lá e era comum deixar seu carro na rua, de portas abertas, faróis acessos, ao deus dará. Diz-se também que era corriqueiro encontrá-lo calçado com sapatos com uma meia num pé e noutro não, ou com meias de uma cor diferente da outra. Como ele tinha essa característica de esquecer, muitos fatos, acredito, foram inventados para dar maior clima às “histórias”, que passam a ser estórias.

• Como falei no início, o esquecimento, a falha da memória, atinge todos os quadrantes. O Einstein, o cientista que elaborou a lei da relatividade, também tinha esses percalços. Certa ocasião saiu ele de seu laboratório e foi para casa, e, no meio do caminho encontrou um grande amigo. Parados, começaram a conversar. Papo foi pra’qui, papo foi pracolá, até o momento de se despedirem. Despediram-se e, quando o colega de Eistein ia embora, pergunta-lhe: -“ah, deixa-me fazer uma pergunta: eu vim daquela direção ou dessa?”. O colega lhe respondeu que fora “dessa direção”, ao que explicou Einstein: - “Ah, obrigado. Então, nesse caso estou indo pra casa almoçar”.  

Nós mesmos, quantas e quantas mancadas já demos em nossas vidas por conta do esquecimento!

Eduardo Pereira

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