Religiosamente a campainha tocava às 7h15min. Mas antes disso, era preciso exercitar a nossa nacionalidade. Todos ao redor da Bandeira, hasteada todos os dias antes das aulas começarem, nos reuníamos para cantar em alto e bom som o hino nacional. Mão no peito e tudo como forma de demonstrar respeito pela pátria. O cenário desse relato é também um caso de amor e uma forma de manter viva a lembrança de tempos que só se perpetuam na memória. Muitos estudaram ou passaram pelo Colégio Diocesano. Tinha nome e reputação imaculados. Era status estudar lá. Farda branca com azul e posteriormente branca com cinza, eram as cores que simbolizam um dos colégios que se confunde com a história da cidade. De arquitetura imponente e localizado num dos pontos mais altos da cidade, o colégio assistia, e ainda assiste, silenciosamente, Cajazeiras crescer e se desenvolver. Enquanto tudo cresce ao seu redor, ele fica esquecido entre muros e paredes cheias de histórias, como se fosse um cartão-postal vivo, mas sem vida. O colégio Diocesano agoniza, verdade, mas mantém-se intocável na lembrança de cada um que por lá passou. Lembranças são muitas. Cheios de nostalgia nosso olhar se volta para a torre da igreja do velho Diocesano, como se quisesse alcançar o que não mais se pode alcançar, nem por mim, nem por ninguém. Sons ainda ecoam nessas lembranças. Como o dos jogos internos, das músicas nos intervalos, das missas, dos ensaios da banda para os desfiles. Tudo isso lhe dava um certo ar de superioridade. Outros, podem lembrar das aulas de educação física, ministradas pelo professor Carlos Ferreira, que nos ensinava, também, como ter disciplina. As competições de espiribol, e suas filas intermináveis esperando o "terceiro", às vezes frustrado pelo som da campainha que anunciava o reinício das aulas. Nesse caldeirão de recordações, cabe aqui colocar as turmas reunidas para conversas longas nos recreios. Gente namorando às escondidas, longe dos olhos do diretor, nosso saudoso Padre Gualberto. Particularmente, lembro que, outro desejo era compartilhado por quase todos os alunos: o de roubar mangas. Roubar no sentido inocente da palavra, no sentido de transgredir uma pequena regra. Mangueiras carregadas nos convidavam até. Era mais um convite que propriamente um furto. O que se aplicava ali, era o fato de ser ou não capturado pelo vice-diretor, o implacável Damascena. Era o desafio! O que poderia render uma pequena advertência ou um dia em casa. Entretanto, tinha sempre alguém que se arriscava. Uns, com sucesso total e com a cumplicidade de muitos. Outros, se contorciam nervosamente em frente a Damascena tentando se justificar ou convencê-lo do ato falho, arrependido e implorando para ser inocentado, mas talvez, cheio de felicidade pela medalha simbólica que todos recebiam, merecidamente, pela conquista da tão desejada manga. Fiquei sabendo que o Colégio Diocesano não funciona mais. Não como antes. Que hoje abriga silêncio, solidão e descaso a um passado que tanto nos orgulha, e que não se pode perder pela falta de compromisso com a história da nossa cidade. Lembrar do Diocesano é também lembrar de gente. Lembrar de dona Socorro da cantina, de Renê Moésia, de Aldineide, de dona Fátima que ensinava inglês, de dona Fátima de matemática, de Jacinta que ensinava religião, de Peixoto que ensinava química, de Erivaldo professor de geografia, de Assis professor de biologia, de seu Antônio que ensinava física, de Ribamar, que ensinava toda a beleza e riqueza da nossa literatura luso-brasileira. É lembrar de nós mesmos e de tantas outras coisas que querem nos roubar. Lembrar do Diocesano é também lembrar do tempo de roubar mangas com saudade de um passado que o descaso não pode apagar da nossa indelével memória.
Zach Rolim
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