Peladeiro que era no campinho do então Grupo Dom Moisés Coelho, fiquei admirado quando vi o primeiro jogo de futebol pela televisão. Não lembro quais eram os times, mas fiquei embasbacado com os planos de imagens, quando a câmera dava um close em um jogador e quando se distanciava para deixar os jogadores bem pequenininhos.
Com o chuvisco da imagem era impossível ter nitidez para se distinguir os rostos dos atletas. Como a imagem era preta e branca daria pare se concluir que sempre teríamos os alvinegros Botafogo-RJ e Santos-SP jogando ao invés do azulão Cruzeiro-MG ou o grená Internacional-RS. Pelo menos na televisão que eu vi da Praça Camilo de Holanda.
Quando encontrei meu irmão Ivaldo (falecido), e lhe falei do jogo que tinha visto, ele não quis acreditar quando disse que tinha momentos em que os jogadores ficavam “desse tamanzinho!”. Disse-lhe mostrando-lhe o dedo indicador sobre o polegar, como aquele gesto que o Chico Anísio faz para dizer: - “e o salário, ó!”. Depois Ivaldo emendou: - “Dêxe de sê bêsta! Tu tá é mentindo! Tu tá é ficando bilé!”. Não insisti muito não, porque era besteira convencê-lo.
Depois deixei que ele mesmo visse, e aí já dávamos para ver os gols da rodada, pela Tv Tupi, das janelas das casas do maestro Esmerindo Cabrinha ou do delegado aposentado Zé Ancioly, com Ruy Porto – de voz pausada e didática para explicar táticas -, em seu programa Ataque e Defesa, aos domingos à noite, depois que já estávamos retornando da Praça João Pessoa ou de uma rua qualquer onde estávamos asilando.
Quando veio a ter televisão em casa, preta e branca, naturalmente (patrocinada por irmãos que moravam em Brasília) eu era pré-adolescente, mas não foi suficiente para reter-nos no sofá. Preferíamos, dez mil vezes, a rua; as paqueras; os cinemas Éden, Pax e Apollo XI; o Parque Maia; o passeio da Praça João Pessoa; as peladas de bola de plástico do Dom Moisés; a Biblioteca Castro Pinto; o ping-pong, música da radiola e o jornal Pasquim do Centro Acadêmico da FAFI; as peladas no Uvilim; as corridas nos carrinhos de rolimãs pelas calçadas da Escola Pedro Américo e adjacências; e por aí vai por esse mundo de imagens coloridas e som estéreo do mundo lúdico tridimensional da infância cajazeirense.
Já em Brasília, vim a conhecer a televisão colorida e o videocassete. Esse, instrumento revolucionário. A televisão ainda era de apertar botões para mudar de canal, e meu irmão Toinho, graças a sua preguiça costumeira, foi, como suponho que muita gente por aí também foi, o pré-inventor do controle remoto, ou seja, deitado na cama, televisão à sua frente, com um cabo de vassoura, quando queria mudar de canal esticava o cabo e apertava o número desejado do canal.
O vídeocassete era que era o bicho! Em Cajazeiras, jamais poderíamos ter um aparelho daquele. Esse sonho só veio a realizar-se em Brasília. E aí, além dos filmes clássicos nacionais e internacionais que víamos, também tivemos a oportunidade de apreciarmos a sacanagem com filmes pornográficos. No quarto, irmãos reunidos, víamos aqueles filmes, e, para termos a sacanagem da sacanagem, na hora que um casal estava trepando, apertávamos a tecla RR, que era de câmara rápida, e explodíamos em risos. A porta do quarto trancada, e minha mãe vinha batê-la para saber que zorra era aquela. Só respondíamos um: “nada, não, mãe! Nada, não, mãe!”.
Eduardo Pereira
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