Se um jovem de hoje em dia ler esse título vai pensar que eu nasci em mil e oitocentos e lá vai cocada. Em tempos de nova safra de televisão em 3D, falar que nasceu sem ter tido visto televisão quando criança, é constatar que sou do período da pedra lascada, ou, do período do homem da caverna dos Flinstones.
Quando Cajazeiras começou a receber as primeiras imagens televisivas pouquíssimas casas tinham televisão. As imagens vinham através de repetidoras, que eram torres de ferros com cabos de retransmissão, dispostas de distâncias em distâncias de quilômetros, de Fortaleza-CE, até chegar a Cajazeiras. Quando havia algum problema os técnicos vinham de Fortaleza ou Juazeiro do Norte, e, com isso, a cidade ficava sem imagens televisivas. Isso mesmo, ninguém via tv. Passava-se de até três dias sem ninguém ver televisão. Nós estávamos desconectados do mundo. É verdade que o mundo daquela época, década de sessenta, não tinha esse agito todo que tem hoje.
Minha casa não tinha televisão, artigo de luxo para poucos, e aí fui conhecer esse engenho que revolucionou a comunicação mundial. Lembro-me que fomos eu, Sales meu irmão, um dos mais velhos dos manos, e Zezito – falecido este ano - de Walmor da sorveteria, lá para a Praça Camilo de Holanda, que ficava em frente da igreja. Havia uma pequena torre de ferro que sustentava uma caixa também de ferro, onde estava a televisão. A imagem era chuviscada, e, naturalmente que era preto e branco. Estavam lá meia dúzia de gatos pingados. Possivelmente televisão era coisa de gente besta. Era à noite, por volta de vinte a vinte e uma horas, por aí. Havia outra televisão para o público no Cristo Rei, mas aí eu nunca fui, por achar que lá era o fim do mundo.
E o que é que estava passando? Lembro-me perfeitamente que era uma novela, que mais tarde vim a saber que se tratava de Beto Rockfeller, produzida pela Tv Tupi, a Globo de então. E o que me faz lembrar hoje dessa telenovela foi o desempenho de dois atores, que eu não tinha a menor idéia de quem eram. Aliás, como era a primeira vez que eu via tv, então, logicamente, eu não tinha noção absolutamente de nada desse universo. Os dois atores eram Luis Gustavo, que era o Beto Rockfeller, e o Plínio Marcos, que fazia o papel de Vitório. Evidente que eu pesquisei essas informações sobre essas personagens.
Veio outra novela, ainda na década de sessenta, lá pelo seu final, e vi alguns capítulos, pouquíssimos, porém marcou-me a memória. Via televisão gorejando imagens nas casas dos outros, e aí o número de televisões já tinha aumentado um pouquinho em Cajazeiras.
Bem, essa outra novela marcou-me pela a atuação, novamente, de dois atores. Eu gostava demais do jeito deles representarem. Via, as poucas vezes que vi, não porque não quisesse, mas por indisponibilidade de facilidade de ver na casa dos outros, com os olhos de curiosidade no desempenho desses dois atores mais do que na trama propriamente dita da novela. Mais uma vez Plìnio Marcos era um desses atores, e o outro era Ziembinski. Eram representações fantásticas dos dois.
Novelas, para mim, por aí pararam. Não fui despertado por elas. Dava-me sono vê-las, como até hoje. E outra: as novelas dos asilados da Praça do Espinho e da Praça João Pessoa eram muito mais atraentes do que a telinha televisiva, mesmo a tecnologia revolucionária da época querendo pôr colorido na televisão, isto é, no aparelho em si, com a aplicação de uma tela de vidro sobreposta à tela da tv com três cores na horizontal. E os chuviscos na tela eram inevitáveis, mas pior mesmo era quando as imagens se distorciam e as pessoas ficavam num mexe pra frente, pra trás, de lado, até a imagem voltar ao normal. Quando ainda enrolava um pedaço de bombril na ponta da antena
Mais um tempo pra frente, como guri que gosta de aventuras, via O Zorro, na casa do agente fiscal Antonio Guedes, vizinho nosso da Rua Pedro Américo. Se a porta da casa estivesse aberta eu e Ivaldo, meu irmão, íamos entrando sorrateiramente, já que éramos amigos de infância de Aldo, filho de ‘seu’ Antonio Guedes, e ficávamos sentados no chão para ver a cara de paspalhão do Sargento García. Esmerindo Cabrinha, outro vizinho de rua, comprou televisor e as chances de ver mais televisão aumentaram.
De forma secundária, já que primariamente as imagens da rua com as turmas de colegas e a vadiagem de rua eram muito melhores, passamos a ver O Gordo e o Magro, Jeannie é um Gênio, etc, etc...
E você, caro leitor, lembra-se quando viu televisão pela primeira vez?
Eduardo Pereira
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