Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

domingo, 21 de novembro de 2010

AS RADIOTÉCNICAS DE GALDINO VILANTE, OZIEL VASQUES E ZÉ DE TOTÔ






Quando eu morava em Cajazeiras, ainda adolescente, eu era muito curioso em mexer tudo que via, porque eu pensava que um dia eu poderia fazer ou consertar aquilo sem que ninguém me ensinasse nada. Afinal, muitas vezes, pela simples curiosidade, eu tentava fazer ou consertar e conseguia. 

Por exemplo: mexer em aparelho de rádio para consertar. Lá em casa quando o rádio pifava, meus irmãos não se atreviam a consertá-lo e essa missão ficava comigo. O papagaio (rádio) parou de falar? Eu o desligava da tomada, tirava a tampa traseira, ficava muito atento quanto a posição das válvulas – eram várias válvulas pequenas e grandes – em seguida tirava uma e limpava, tirava outra e examinava como se eu entendesse do assunto. Às vezes, trocava de posição com uma outra e assim ia mexendo numa e outra. Ligava a tomada e o rádio não funcionava. Começava tudo de novo. Tinha uma hora que o bichim começava a falar ou começava a apresentar um cheiro de fio queimado. Já levei choques de pequena proporção quando puxava ou tirava o botão de sintonia e ficava só com aquela pontinha de metal (o eixo) e ao pegar no metal, o choque era certo. Eu mexia na antena, que ia até o telhado, a esticava e mudava a posição dela. Ou eu fazia  o rádio falar ou tinha que levar para um radiotécnico.  profissional.

Em Cajazeiras tinha três radiotécnicas: a de Zé de Totô, que ficava na Praça João Pessoa; a de Galdino Vilante, quase em frente a Coletoria Estadual e a de Oziel Vasques, ao lado do Hotel Oriente, ambas na Rua Tenente Arsênio, hoje Calçadão central. Essas radiotécnicas tinham em suas prateleiras muitos aparelhos de rádios, radiolas, radiovitrolas e gravadores para conserto, bem como usados para vendas ou troca. Quando as prateleiras estavam lotadas, eles colocavam no chão, dentro ou em cima do balcão. Quando eu entrava em uma dessas lojas de conserto de rádios, eu ficava só olhando a maneira como os técnicos trabalhavam com aquelas relíquias, que até hoje sou um eterno apaixonado por rádios antigos. 

Quando eu morava em Cajazeiras e não tinha televisão, aos domingos, depois do almoço, eu e Toinho, meu irmão, disputávamos quem ficaria controlando o rádio para acompanhar os jogos do Campeonato Paulista ou carioca. Ou seja, quem se sentasse primeiro na cadeira, que ficava ao lado da mesinha do rádio, ficaria controlando as estações da Rádio Bandeirantes de São Paulo ou Rádio Globo do Rio de Janeiro. Até para ir ao banheiro, quem estivesse no controle do rádio, com certeza perderia o lugar e o outro ficava no comando de controle das estações citadas. Coisas de meninos. 

Na época, praticamente, em todas as residências tinha pelo menos um aparelho de rádio como hoje tem um aparelho de televisão. Rádios pequenos, médios e grandes de diversas marcas, cores e de estilos diversos. Tinha ainda radiolas e radiovitrolas de fabricantes brasileiros e estrangeiros. Os que mais despertavam a atenção era o transglobo de 10, 12 faixas. Nesses potentes transglobos era fácil sintonizar a Rádio BBC de Londres. Um irmão de Raimundo Ferreira, da Viação Brasília, trabalhou nessa emissora. Sintonizávamos muitas emissoras estrangeiras, como a Rádio Nacional de Lisboa, Portugal; Rádio Pequim, China; Rádio Nikkey, de Tóquio, Japão; Rádio Central de Moscou, Rússia, entre tantas outras. Lembro-me que tinha aparelhos de rádios pequenos, que vinha com capa de couro, onde se destacava em sua visualidade. 

O Armazém Paraíba de seu João Claudino, era o maior vendedor de rádios novos de diversas marcas e muitas vezes aos sábados, dia de feira, os sitiantes iam para Cajazeiras comprar seus rádios, que eram ligados a pilhas grande, devido não ter energia elétrica na época. Lá no Sítio Rita - de meu avô João Martins - município de Monte Horebe, João Nestor, cunhado de minha mãe, tinha o seu Rádio Canarinho ABC onde a antena era fixada em uma latinha com terra onde o som ficava mais limpo. Nos sítios, os moradores ouviam a Santa Missa pelo rádio e ficavam de joelhos na hora que o padre pedia. 


PEREIRA FILHO
Radialista
Brasília–DF
jfilho@ebc.com.br

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