Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 3 de outubro de 2010

É TEMPO DE INLEIÇÃO, ISTO É, OS PULÍTICO TÃO CHEGANDO

Ivaldo Pereira de Souza, já em Brasília.

Como hoje é dia de eleição lembrei-me de um poema escrito por Ivaldo, meu irmão, falecido em 1980. Ele, Zé Filho de Zé Sacristão, Gutemberg Cardoso, Giovanny de Souza, Josival Pereira, Luís Alves, José Paulino, Dirceu Marque Galvão, Joab de Sousa, Francisco Marcondes Gonçalves, Nonato Guedes, Zé Alves Neto e tantos outros que se alinharam para cometer poemas com temáticas principalmente sobre a vida e a política de Cajazeiras, e do Brasil, no período da segunda metade da década de sessenta e primeira de setenta, em Cajazeiras, publicaram o livro Raízes, só de poesias.
Este poema aqui postado, não faz parte desse livro, mas retrata perfeitamente aquele universo, aquele clima de protesto, de ações expressas nessas poesias, nos festivais de músicas, nos centros cívicos, nos festivais de poesias, nas festas das semanas universitárias, nos bares, e por aí vai.
Observe que esta poesia é no estilo de cordel, na singeleza do pensar e interpretar as circunstâncias que aquele jovem vivia em sua cidade interiorana, de um jovem sonhador que começou a praticar esses poemas na adolescência, aos quinze, dezesseis, dezessete anos.
Eduardo Pereira.

É TEMPO DE INLEIÇÃO, ISTO É, OS PULÍTICO TÃO CHEGANDO

Óia, esse minino,
min diga logo se voismincê
é um daqueles granfino
qui sabe muito bem lê
mais qui é home suvino
pois só diz qui vai fazê.

Aqui vem muito dessas pessoa
e todas fala de nosso pão
qui pur nóis sê pessoas boa
miricia mais atenção
mais já sei qui eles fala a toa
pois só fala quandé inleição.

Pra voismincê vê, nas inleição passada
eles déru muita cumida
déru feijão, arroz e carnassada
e nun fartô  u’a bibida.
Inleição passô, eles tão nas bancada
e nóis tamo que nem muié da vida.

Eles já tão onde quiria
e foi nóis qui coloquemo
agora eles diviria
dá a nóis o qui num temo
assim todos dizê pudia
eles num deve nem nóis devemo.

Nosso maió pobrema
é mermo as refeição
já prantemo, reprantemo e inté rezemo novena
mais a fome num passa não.
Eles fala in inegia, proguesso, mais é u’a pena
qui fome só morre cum alimentação.

Só alimentação mata fome
num é priciso lhes dizê
mais inquanto eles come
nóis istamo a sua mercê
cultivando a imensa terra, qui até some
e cum a barriga a jazê.

Pur eles tá na bancada
mandando e dismandando
a nossa criançada
chora pur num tá mamando
pois peito de muié acabada
num dá leite nem cortando.

Ivaldo Pereira de Souza
Brasília, 1977.

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