A poucas horas da apuração das urnas eletrônicas o Brasil já está sabendo os nomes dos eleitos para todos os cargos, de deputado estadual a presidente da república. A evolução tecnológica adquirida pelo Tribunal Superior Eleitoral é de dar inveja até em países de primeiro mundo. O Brasil tem disso: em alguns aspectos é evoluidíssimo e, em outros, é uma lástima.
Para sofisticar mais ainda, na precisão para escapar de fraudes e acelerar o tempo de apuração, nessas eleições já foram inauguradas as urnas usando o sistema biométrico, onde se tem o voto de identificação por meio de impressão digital. Mais de um milhão de eleitores usou esse sistema experimental.
Para se chegar a esse estágio sofisticado o sistema eleitoral brasileiro já passou pelo chão batido da rusticidade. A geração moderna não imagina que o apertar de dedo e ouvir uma sonoridade padrão tem como origem o lápis de tinta e um pedaço de papel com uma urna com um buraquinho para se depositar o voto na rachinca da bicha. Era uma urna avermelhada, feita de uma lona grossa parecendo lona de caminhão.
A apuração. Eis aí um sistema todo complicado do ponto de vista da operacionalidade. Eu não votava, era criança, mas lembro-me de como se dava essa sistemática. Ao contrário de hoje, onde as pessoas ficam em casa acompanhando número a número pela televisão, ou pela internet, sem precisar anotar nada, naquele tempo, meados da década de sessenta e meados da de setenta, lá em Cajazeiras, as pessoas se deslocavam para a praça que fica atrás da prefeitura e, em pedaços de papéis iam anotando os números da apuração anunciadas em uma difusora exposta no peitoril do fórum, que ficava no primeiro andar da prefeitura municipal.
Os mesários e os funcionários eleitorais faziam a contagem das cédulas e, quando se gerava uma dúvida, fazia-se a recontagem. Daí os dias se arrastavam por três a quatro dias, ou mais, para se anunciar os nomes dos vencedores.
As cédulas, de papéis, onde se deveria anotar um xis num quadradinho ao lado do nome dos candidatos, eram verdadeiros murais, onde os eleitores escreviam o que bem entendiam para xingar os candidatos e as mães dos candidatos sob a proteção do anonimato. Escreviam também frases ou qualquer outro rabisco demonstrativo de ira contestando o sistema político vigente.
Quando a difusora – auto-falante – anunciava um novo boletim, todos corriam para anotarem os números da votação. Muita gente se perdia nas somas de seus candidatos, gerando assim discussões partidárias acirradas cada um achando que candidato xis é que iria ganhar. As rádios Cajazeiras e Alto Piranhas também anunciavam os resultados desses boletins. Estavam para os papéis que as televisões têm hoje, de anunciarem resultados.
Depois de exaustivas contagens, proclamados os nomes dos vencedores, vinham as comemorações em passeatas.
Diga-se que as passeatas, durante as campanhas, era um outro número a parte. Lembro-me que certo candidato fez uma passeata em que seus eleitores iam todos à cavalo, desfilando pelas ruas de Cajazeiras, e, um dia após, seu oponente fez uma passeata da água. As pessoas carregavam latas d’água para limparem as ruas por onde os cavalos deixaram suas fezes.
De outra feita, candidato xis estava usando um discurso muito agressivo e seu oponente resolveu fazer uma passeata das flores, para arrefecer os ânimos.
Hoje em dia o costume é fazer carreata, quando naquele tempo as passeatas eram percorridas por pessoas a pé pelas ruas de Cajazeiras, criando calo nos pés e depois exibindo como troféu de dedicação a seu candidato. Bonito também foi uma passeata de bicicleta. Outra foi a de ramos, onde as pessoas passavam arrancando galhos das árvores das ruas para brandir. Isso significava que Cajazeiras era uma cidade arborizada, o que não daria certo hoje, numa cidade careca.
A criatividade corria solta e, mesmo num regime político polarizado pela ARENA – Aliança Renovadora Nacional e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, sob um regime militar, a euforia política estava presente como uma chama de festa. Claro que, o voto de cabestro, o curral eleitoral, a compra de votos, etc. eram notórios, mas o período eleitoral estava para a população como se estava a festa junina com suas fogueiras espalhadas por todas as ruas da cidade. A fogueira das vaidades.
Eduardo Pereira
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