Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

OS DOCUMENTOS

Qual o mecânico que melhor entende de carros da linha Volkswagen em Cajazeiras? Pergunta difícil de responder? Não. Seguramente posso garantir que o nome dele chama-se Gilson Mamedes. Ou simplesmente Gilson. E o que o credencia para ser considerado o melhor? Seguramente o seu histórico. Sua formação se deu na Volkswagem de Tota Assis, que ficava ali em frente ao Grande Hotel. É claro que estou falando de Cajazeiras do início dos anos 70.

Gilson começou a trabalhar lá, limpando as ferramentas usadas pelos mecânicos, e daí continuou num crescendo profissional com cursos em Recife, São Paulo... É um profissional que se dedicou a vida inteira aos carros Volkswagen e, hoje, é proprietário de sua própria oficina, a Gilvolks, que fica ao lado da loja de seus exs-patrões, os Robertos da Rovecol. É uma oficina típica das oficinas sujas de graxa e óleo, sem a arrumação e designer das oficinas profissionais. Longe disso. Mas o cara resolve tudo.

Esse rodeio todo era para situar Gilson, que, juntamente com seu tio Veín, quando solteiros, adoravam andar pelas asas dos cabarés na Camilo de Holanda e adjacências. Naquela época o regime militar brasileiro que imperava ordenava, mais do que hoje, que a polícia exigisse das pessoas, em ambientes, digamos, nada familiares, a apresentação de documentos pessoais para se comprovar que o sujeito era trabalhador e não marginal. Ou, a origem dessa abordagem, talvez fosse a busca constante que a polícia fazia a cata de comunistas. Não que eles, os comunistas, fossem uns tarados, mas, por disfarces, poderiam estar em lugares inusitados para despistarem o aparato policial que os caçavam como terroristas e assaltantes de bancos. Mas isso é história do Brasil, e eu estou tentando chegar a um episódio com Gilson e seu tio.

Estavam ambos no cabaré, quando chega uma viatura policial dando um baculejo. Todo mundo de pé, de costas, braços e pernas abertas, os policiais falando com uma educação de dar inveja a Pedro Revoltoso, e apalpando as costas, os bolsos traseiros das calças, portanto, as bundas da rapaziada, como também uma rápida apalpadela nos sacos dos cabarezeiros. A rapaziada puto de raiva porque eram interrompidos em suas cervejas geladas num dia calorento que parecia o inferno.

Um meganha se aproxima de Gilson, e lasca a indagação pelos documentos:

Policial: Os documentos!

Gilson (que é gago): Que, que, que, do, do, do, do, cu, cu,cu...!

Policial: Teus documentos, seu fea’da puta!

Veín, vendo o sobrinho no aperreio fala em socorro.

Veín: Má moço...

Policial: Cala a boca, seu felá-da-puta! E tu também, me dá os documentos!

Veín: Ôxe, eu num vim aqui procurar emprego!



Eduardo Pereira


E-mail: dudaleu1@gmail.com

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