Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O POPULAR E O ACADÊMICO

Paulinho, um boêmio manifesto dos botecos de Cajazeiras, amigo de todos, de repente aparece agonizando em frente à empresa de moto SAZAKI, em situação não esclarecida. É levado ao hospital e em pouco tempo veio a falecer no último dia 21.
Paulinho era conhecido por todos os cajazeirenses. Era vigia e padeiro, suas profissões de sustento, mas se alguém perguntasse: “quem é o vigia Paulinho em Cajazeiras?”, ou “quem é o padeiro Paulinho?”, talvez poucas pessoas soubessem desses dois profissionais em um. E mais ainda: se vissem o Paulinho no seu bar habitual, o Bar do Décio, não o veriam como um padeiro e nem como um vigia. Seria um sujeito desconhecido.
Figura carimbada no point dos garrafa-e-copo, Paulinho era conhecidíssimo por ali, não exclusivamente porque era seu freqüentador e amigo de toda aquela gente boa que lá freqüenta. O Paulinho carregava consigo um prazer desmedido em sua alma. O xis da questão é que Paulinho fermentava sua voz quando ouvia músicas da Jovem Guarda, ficava vigilante na voz de um dos porta-vozes desse movimento musical que marcou a história da música brasileira nos idos da década de sessenta/setenta. E esse port-voz era o ídolo de Paulinho, que imitava-o no capricho. Esmerava na voz. Procurava colocar os falsetes para melhor identificação com o seu divo. Em algum evento que Paulinho participasse em Cajazeiras, estava lá ele imitando o nome famoso desse cantor. Paulinho já se considerava de coração o próprio de tanto admirar seu ídolo. Tanto é que o Paulinho era conhecido exclusivamente como a voz , a intenção, o charme, a estrela, a simpatia de... E com vocês... Jerry Adriani!!!
No céu Paulinho está cantando docemente: “Ninguém poderá julgar-me/Nem mesmo tu (que a verdade é malvada eu sei)...”.
Também no dia 21 desse setembro, Cajazeiras, especialmente a comunidade universitária, é abalada com a súbita notícia da morte do professor da UFCG, campus de Cajazeiras, Paccelli Gurgel, vítima de infarto.
A sua versatilidade intelectual era expressa na sua formação de professor de História, assessor de imprensa do Campus da UFCG/CZ, cronista do Gazeta do Alto Piranhas há muitos anos e, como Paulinho Jerry Adriani, um amante de música. Sua paixão era principalmente o rock. Tanto amava o rock que criou sua própria banda, como guitarrista que era, a Arlequim Rock’n roll Band.
Os artigos em blogs de seus colegas professores, pupilos, amigos e fãs que acessei demonstram o carisma que ele tinha com os seus próximos. Em suas crônicas no Gazeta ele revelava a si e sua visão do cotidiano de seu mundo. Tinha uma bagagem intelectual invejável e primava pelo conhecimento sólido, clássico, sem deixar se levar pelo exibicionismo. Digo isto porque era leitor assíduo de suas crônicas semanais e isso era perceptível para mim.
Como Paulinho, também era chegado nuns birinaites nos points da vida de Cajazeiras, como o Leblon, Bar do Pirulito, etc. 20 anos de Cajazeiras o fizeram praticamente um cajazeirense. 20 anos lecionando na universidade de Cajazeiras praticamente podemos afirmar que deixou um legado, uma geração.
Paulinho e Paccelli: duas parcelas ricas do cenário cotidiano cajazeirense. A dignidade de ser padeiro, pintor e cantor por prazer, e, na outra linha, professor universitário, cronista e rockeiro,  elevam essas duas figuras  ao patamar do prazer de se viver a vida com o deleite que Cajazeiras oferece. O primeiro, um cajazeirense nato, e o segundo um mossoroense que praticamente se naturalizou cajazeirense com as bênçãos do ensino de Padre Rolim.

Eduardo Pereira
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