Raras vezes encontro Beval quando vou à Cajazeiras. O homem está sempre trabalhando, com mil empregos, correndo daqui pra colá, dando duro. O cara é o cara na responsabilidade de cuidar da petizada de Cajazeiras. Ele nunca foi de dar muito trabalho quando criança, acredito, no entanto, trabalha muito para ver as crianças em ordem, com saúde.
Sempre foi uma pessoa estudiosa, persistente no seu objetivo de se tornar médico. Pronto, agora entreguei quem é Beval. Trata-se de Dr. Ruberval – um dos maiores pediatras de Cajazeiras -, irmão de Binha e de Rubenilto (que chamávamos mais especificamente de Benito de Men, em contrapartida ao cantor Benito de Paula) filhos de Expedito Maciel e de Men. Isso mesmo, o nome da mãe dele era Men. Men, como eles, os filhos, e toda galera da Praça do Espinho a chamavam. Beval morava na casa de sua avó, ali na Praça do Espinho.
Além de estudioso, e bom de bola – prendia muito a redonda, o que lhe rendia xingamentos – Beval tinha facilidade por se apaixonar pelas garotas, mesmo que elas não se apaixonassem por ele. Éramos todos adolescentes, na flor da idade para termos caída por qualquer garota que desse bola ou não para a gente.
Mas Beval ia além do grau de paixão que tínhamos pelas meninas. Ele exagerava um pouco em sua paixão. Evidentemente que não era uma paixão que contivesse desvario, e muito menos suscetível de manchetes policiais. Longe disso. Era uma paixão, digamos, platônica. Lógico que ele tinha namoradas reais, mas seu coração não se continha, e estendia seus sentimentos a outras mulheres. Não, não era às mulheres do amor fácil, as mulheres que se vendiam.
Essas mulheres que Beval se apaixonava estavam nas páginas de revistas, muitas delas com fotos provocantes, e estavam nas telas de cinema, nas falas aumentativas dos colegas que descreviam mulheres imaginárias. Eu, Ivaldo, meu irmão falecido e Aldo, filho de Antonio Guedes, agente fiscal, amigos muito unidos, gozávamos muito dele. Não entendíamos porque se apaixonar tanto por uma atriz de cinema, numa projeção que durava apenas cerca de hora e meia de espetáculo, numa estória construída para arrebatar corações.
Certa vez fomos ver um filme no Cine Pax, pertinho de nossas casas, e a estória do filme se desenrolava com uma adolescente que engravidava com seu namoradinho e a barriga dela já estava se projetando, e ela não queria ir para casa por causa do escândalo que seus pais fariam com ela. Beval se apaixonou por Paloma – esse era o nome da linda personagem – a tal ponto que vimos a ora dele ficar bilé. Durante a sessão ele chegou a chorar de compaixão e revolta.
Na realidade Beval estava mais com o instinto paterno, protetor, do que com o de amante latino, popularmente assim dito.
É verdade que todas as mulheres que Beval se apaixonava eram belas e tesudas, atrizes de cinema e mulheres peladas de revistas. Dessas revistas que, depois de coladas, não se abriam mais. Sei lá que cola ele jogava lá!
Olhando do horizonte de hoje, Beval não lembrará mais dessas histórias/estórias, mas eu, do horizonte da adolescência, recubro perfeitamente a memória, porque também eu, Ivaldo e Aldo colávamos revistas. O nome da cola era... Sei lá o nome dessa porra!
Eduardo Pereira
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