Foi inaugurado semana passada o Presídio Regional em Cajazeiras, que teve sua construção iniciada em 1999, desativando, assim, a Cadeia Pública, já fartamente dita como uma masmorra. Agora a Cadeia funcionará como presídio feminino, provisoriamente, já que se conta com quatro milhões de reais para a construção de um também presídio, feminino.
Antigamente a cadeia era ali onde é a atual Caixa Econômica Federal, e, por certo, presumo, era considerada muito central e deve ter ido para onde hoje foi desativada. Não sei por quanto tempo ela ficou na rua Engenheiro Carlos Pires de Sá. Sei que foi por muitos anos.
A gente passava perto dela e via os presos sentados nas janelas que davam pra rua com os pés pra fora. Naquela posição, com certeza não se dava para ver o Sol quadrado, e sim a torre da igreja Catedral, o que era um alento, e, quem sabe, eles, os detentos enganchados nas janelas, oravam pelo fim de suas penas. Eles viam o movimento da rua, ouviam o movimento da rua, sentiam que estavam bem próximos da rua, mas estavam distantes com suas penas.
Quantas vezes, nós guris, andando por aquelas bandas, presenciávamos presos chegando. Aos nossos olhos configurava a degradação do ser humano, mas para a multidão que se formava, funcionava mais como um espetáculo de correção, de justiça.
Foram transferidos 177 presos para o novo Presídio. Já havia superlotação na Cadeia Pública. É assim no Brasil: as cadeias vão superlotando e os presídios novos se multiplicando. Tem aquela frase famosa, que me parece ser de Victor Hugo, que diz: “quem abre uma escola fecha uma prisão”, e é, exatamente na dita cidade que ensinou a Paraíba a ler, que se abre uma grande prisão e não se tem notícia de abertura de uma grande escola pública.
Quantos criminosos famosos passaram pela Cadeia Pública? Lembro-me de Macedinho, que fazia parte do grupo do bandido Lúcio Flávio, famoso no Brasil inteiro, e, dizem, fez parte do esquema de fabricação de dinheiro de “seu” Sinval Lacerda, que morava naquela casa bonitona que ficava na esquina da Pedro Américo e defronte para o início da Praça do Espinho. Este caso, acredito, só perdeu em repercussão para o escândalo não solucionado até hoje da bomba no Cine Pax.
Um crime que me lembro, que ficou em minha lembrança infantil, pela sua peculiaridade, foi um de uma senhora que vingou a morte de seu marido. Ela construiu a artimanha, para a época que não havia a rigidez na inspeção das visitas como hoje, de forma bem urdida. Era um domingo, dia de visitas, e ela chegou tranquilamente à cadeia, entrou no pátio e foi andando de cela em cela procurando identificar o criminoso de seu consorte. Identificado o meliante – como a crônica policial gosta de se referir – perguntou se o sujeito era o fulano de tal, e o cara, sem desconfiar, disse que sim. Como era um dia de sol de rachar, ela estava com uma sombrinha para se resguardar daquele Sol escaldante. Mas a verdade é que aquela sombrinha não lhe servia de proteção solar coisíssima alguma. O que esquentava, para ela, era sua sede de vingança. Quando o idiota pronunciou seu nome, a mulher enfiou a mão na sombrinha quase fechada e retirou um revólver e presuntou o criminoso. Sem choro nem vela estava lá o corpo estendido no chão.
O resto da história, se ela foi presa ou não, julgada ou não, nada me lembro. Só sei que ela daria para ser uma boa roteirista de filme policial.
Eduardo Pereira
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