Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

BIBLIOTECA CASTRO PINTO GOOGLE

Sempre que vou à Cajazeiras nunca deixo de ir à Biblioteca Pública Castro Pinto. De pronto. E não seria dessa vez – fui à festa do 8° Reencontro - que eu ia deixar de comparecer lá. Era uma sexta-feira, dia 20/8. A porta estava encostada, e, quando fiz menção para entrar, uma funcionária barrou minha entrada. Minha e de quem quisesse entrar naquele momento. Percebi que tinham acabado de lavar o piso. Talvez fosse isso o impedimento. “Mas moça, a biblioteca não é pública?”, indaguei. “Sim, mas não pode. Você quer que eu chame a diretora?”. “Não, eu não quero. Eu quero simplesmente entrar”, retruquei. “É... Mas não pode. Não quer ver com a diretora?”, insistiu. “Não, eu não quero ver a diretora, eu quero ver a biblioteca, ler jornais, ver os livros, dar uma passada pelo acervo...”. “É... Mas não pode”.

Como não sou barraqueiro fui embora frustrado porque seria essa a primeira vez que eu deixaria de comparecer à minha biblioteca alexandrina. Alexandrina porque ela foi o marco inicial, histórico para a minha vida de guri ao adentrar pela primeira vez uma biblioteca daquele porte. Para mim, um miúdo, aquilo sim, era que era biblioteca. Na minha visão virgem de biblioteca pública, menino interiorano, limitado em acervo mas ilimitado na imaginação, era como se hoje ela fosse a Biblioteca Central da UnB, com quase seu um milhão de livros, onde freqüentei muito de quando me formei lá, ou como será a Library of Congress, dos Estados Unidos, a maior do mundo, quando um dia eu for lá, com mais de seus 144 milhões de itens. É lógico que eu não sabia dessas informações naquela época, mas o imaginário infante é largo.

Era lá, na Biblioteca Castro Pinto, que eu ia fazer minhas pesquisas escolares em enciclopédias como a Barsa, a Britânica e outras específicas de ciências. Elas eram o nosso Google. O mouse de hoje em dia era as pontas dos dedos folheando aquelas páginas de papéis grossos de primeira. Os links eram as anotações das páginas para os respectivos assuntos desejados. Ai, ai, ai de quem fizesse control cê mais control vê escrito. A professora exigia nossa opinião, nossa interpretação. Senão, um vermelhinho no boletim era certo.

Puto de raiva ficávamos mesmo era quando algum idiota, um besta qualquer, arrancava alguma página da enciclopédia porque não queria fazer o trabalho escolar na biblioteca. Não tem jeito, gente idiota tem em qualquer época e em qualquer lugar.

Era na Castro Pinto que os colegas, os grupinhos, se reuniam para estudar, para ler os livros de Jorge Amado, Castro Alves, Lima Barreto... Tínhamos que combinar entre nós quem entraria na lista de espera para ler o único exemplar de Capitães de Areia, de Jorge Amado. Na Castro Pinto também era lugar para paquerar, namorar e, se houvesse chance, sarrar.

Bem, fui embora sem entrar na biblioteca, mas depois fiquei sabendo que ela estava lavada e fechada porque estava se preparando para as festividades do fim de semana pelo ensejo da programação do ‘dia da cidade’. Possivelmente iria receber as autoridades e convidados para algum evento especial. Autoridades e convidados especiais adoram entrar numa biblioteca lavada e cheirosa para fazer média com o povo, querendo mostrar sapiência e preocupação cultural com a população. É bom deixar claro que essa preocupação é só nos dias de festas cívicas. Mesmo porque essas autoridades e convidados especiais de palanques têm vida atribulada, corrida. Portanto, eles não têm tempo de ler livros. É por isso que, hoje, eu, adulto, vejo a Biblioteca Pública Municipal Castro Pinto, criada em 1970, tão pequenina depois de 40 anos. Parece que não passa da primeira página. Mas ela é o meu inesquecível templo do saber.

Eduardo Pereira
E-mail: dudaleu1@gmail.com

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