É comum as cidades terem bares que se projetam pela elegância arquitetônica, pela atração culinária, pela presteza dos serviços, pelos preços em consideração sem perder a qualidade de sua atividade. Mas tem bares que não tem elegância arquitetônica, não têm atração culinária e o preço das bebidas é o trivial de um bar simples qualquer
Pelo título desse texto já entreguei a rapadura. Sim, é o Bar do Décio, que, presume-se, seu nome seja Dércio, mas a asiladagem que pousa lá resume a pronúncia de forma mais aconchegante.
Situado à Praça João Pessoa leva vantagem pela facilidade de concentração de fregueses que sempre estão pelo centro de Cajazeiras. Até parece que nasceu para a boemia, pois fica defronte ao ex-Jovem Clube, ao ex-Cine Eden, na rua do ex-Bar de Ionas. Ele, o bar, é a sustentação desses exs na memória afetiva de seus frequentadores. Também pudera, o Bar do Décio é freqüentado pelos artistas da cidade tanto como pelos asilados. Não é de se estranhar que lá a gente encontre um bebum que passou pra tomar uma, quanto os batuqueiros de música do naipe da MPB, como Riba, Santino, Big Olivan Boy e por aí vai pelas cordas afinadas de um violão incansável como a galera bon vivant que lá pousa. A qualquer momento o prefeito pode passar por lá, ou alguma autoridade em bermuda de fim de semana.
O tira-gosto principal que rola por lá é a glosa, é o lero-lero, é a pilhéria, é a potoca, é a piada, é o chiste, é a facécia – poxa, fui fundo demais com essa palavra – é a anedota, é a bazófia, é a fanfarrice... Paro por aqui. Os adjetivos são milhares, entremeados nas falas dos habitantes do Bar do Décio, gente com palavras molhadíssimas numa cidade seca.
Cartão de crédito? Para o Décio isso é coisa de outro mundo. A mufa tem que ser ao vivo, e a conta não tem maquininha eletrônica e nem calculadora. Tudo é feito na ponta do lápis de tinta em papel de embalagem de pacotes de cigarros. O espaço é minúsculo e a freguesia fica metade dentro e a outra metade fora do bar, à sombra de uma pequena árvore bondosa que não deixa esquentar a cerveja.
O Bar do Décio é referência como ponto de encontro de amigos imortais. Quem chega de fora, e quer marcar um encontro com alguém, tem que bater o ponto lá. Não sei como ainda não foi criada a Academia Cachazeirense de Letras Garrafais. Se é a cidade que ensinou a Paraíba a ler, por que não pode ensiná-la a beber? Bons professores, ou, bons escritores, lá é o que não falta. O Bar do Décio está cheio de pós-doutorados de letras garrafais. A ACLG pode ser um braço da ABL – Academia Brasileira de Letras na Paraíba.
Se nos últimos anos foram criadas tantas siglas querendo abraçar causas mor de Cajazeiras, como MAC, AC3, AC2B, CDL... não custa nadinha mais uma, querendo salvar o happy hour da cidade e reforçar as glórias do pôr do Sol do Açude
Grande. Candidatos à ACLG têm de sobra. De quem seria a cadeira número um? De Ferrerinha? Seria ele o nosso Machado de Assis das letras garrafais? O Bar do Décio seria a sede principal da entidade?
Grande. Candidatos à ACLG têm de sobra. De quem seria a cadeira número um? De Ferrerinha? Seria ele o nosso Machado de Assis das letras garrafais? O Bar do Décio seria a sede principal da entidade?
Eduardo Pereira
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