O bilhão de Alckmin
O presidenciável tucano Geraldo Alckmin juntou gente para anunciar que sua gestão havia conseguido economizar, em três anos, quase R$ 1 bilhão em despesas para o governo de São Paulo.
O caso faz lembrar um debate, ocorrido anos atrás, entre outro presidenciável, Ciro Gomes (que já foi do PSDB e de alguns outros partidos, estando hoje no PDT), e o economista e militante liberal Rodrigo Constantino. Este falava em medidas para conter gastos públicos, como cortar ministérios; "Isso dá bilhão?", perguntava aquele. Não dava.
Alckmin fez visível esforço para aproximar sua soma do número de dez dígitos. Considerou todo um triênio e reforçou a conta, como mostrou a repórter Gabriela Sá Pessoa, com algumas cifras pouco verificáveis.
Mas admita-se, por hipótese, que o cálculo seja 100% fidedigno. Que inclusive se arredonde o valor para cima, para facilitar a propaganda e a análise. De todo modo, a heroica tentativa de dar bilhão precisa ser cotejada com o Orçamento anual do Estado, de 200 vezes tal montante.
Ou, considerando as pretensões presidenciais do governador, com o deficit de R$ 500 bilhões acumulado nos cofres do Tesouro Nacional nos últimos 12 meses.
Não é que falte a Alckmin boa experiência no Executivo (nem que Ciro costume ser exemplo de sensatez em suas declarações). Mas seu ato remete a um velho cacoete de campanhas do partido: para escapar de debates indigestos, os tucanos dão a entender que as carências orçamentárias do país poderão ser resolvidas por meio de alguma grande capacidade gerencial, real ou imaginária.
Que se pode e deve melhorar a administração pública, gradual e continuamente, é apenas óbvio –a esta altura, aliás, os eleitores já poderiam ser poupados da ladainha dos "choques de gestão". Mas o enfrentamento do rombo estatal não se dará sem coragem para o conflito político, qualquer que seja o lado escolhido.
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