Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Apenas ressaltei que seu discurso reforça uma "anticultura" que, embora tenha muitos adeptos, precisa ser combatida.

O país merece um debate aprofundado sobre segurança no trânsito 

Nabil Bonduki 

SÃO PAULO,SP,06.09.2017:TRÂNSITO - Trânsito na Marginal Tietê, sentido Ayrton Senna próximo à Ponte Cruzeiro do Sul, em São Paulo (SP), nesta quarta-feira (06). (Foto: Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Folhapress) ***PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS***


O país merece debates consistentes para superar esse ambiente polarizado e empobrecedor, com disputas partidárias vazias que não contribuem para as políticas públicas.

Por isso, prefiro me referir ao artigo do líder do governo na Câmara, Aurélio Nomura, sem rebater seu discurso vago, aprofundando, nesta Semana da Mobilidade, a reflexão sobre segurança no trânsito.

Na coluna de 12/9, defendi que a "anticultura" da velocidade deve ser combatida pelos gestores públicos, ainda mais pelo prefeito da maior cidade brasileira, pré-candidato à Presidência.

O Brasil ocupa a quarta posição mundial em mortes no trânsito e a sexta em mortes por cem mil habitantes. Em dez anos, 450 mil pessoas morreram em acidentes no país.

Em São Paulo, esse número atingiu 12,5 mil vítimas (45% pedestres e 35% motociclistas). No entanto, são alentadores os avanços alcançados em gestões de diferentes partidos. O número de mortes no trânsito paulistano caiu de 1.463, em 2008, para 950, em 2016, uma redução de 35%.

A queda se acentuou em 2015, quando os limites de velocidade das vias e das marginais foram reduzidos. Nos últimos seis meses, entretanto, as mortes no trânsito da cidade cresceram 6,7% em relação ao mesmo período de 2016.

Reduzir a velocidade não foi uma medida isolada. Integrava a estratégia do Plano Diretor, que objetiva alterar o modelo de mobilidade do século 20, baseado no automóvel. Inclui iniciativas como corredores ou faixas exclusivas de ônibus, ciclovias, parklets, ruas abertas e a regulamentação de aplicativos (tipo Uber), estimulando o transporte público, a mobilidade ativa e a racionalização do uso do automóvel.

A redução de velocidade aumenta a segurança (o risco de morte em uma colisão frontal com o veículo a 50 km/h é de 20%; a 80km/h, ele sobe para 60%) e melhora o trânsito, pois possibilita uma menor distância entre os veículos, aumentando a capacidade das vias.

Essas corajosas medidas, apoiadas por todos os técnicos em mobilidade, contrariam os motoristas, que sempre foram privilegiados no trânsito. Por isso, são utilizadas politicamente, como os candidatos de oposição fizeram em 2016.

Nesse contexto, o slogan "Acelera SP", adotado por Doria, relacionava-se diretamente à proposta eleitoral de aumentar as velocidades e de denunciar a suposta indústria de multas, que desagrada o cidadão. Discurso populista, que dá votos, mas que não contribui para a urbanidade.

Em momento algum atribui ao prefeito a responsabilidade por todas as mortes no trânsito da cidade, como afirma Nomura. Apenas ressaltei que seu discurso reforça uma "anticultura" que, embora tenha muitos adeptos, precisa ser combatida.

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