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sábado, 8 de julho de 2017

"O passado não é tão bonito quanto parece."

Passado honesto da era Vargas é 'caricatura', diz historiador

NAIEF HADDAD

"O passado não é tão bonito quanto parece."

É o que diz o historiador Boris Fausto sobre a defesa que a socióloga Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta de Getúlio (1882-1954), faz dos governantes em atividade na época do seu avô.

"O Brasil já foi honrado e não falo só do Getúlio. Na época dele, os homens públicos tinham ideologias diversas, mas não vi ninguém ganhar dinheiro", disse Celina, 73, em entrevista publicada pela Folha nesta sexta (7).

Ela é uma das organizadoras da nova edição de "Getúlio Vargas, meu Pai" (ed. Objetiva), de Alzira Vargas (1914-1992), mãe de Celina.

Autor de livros como "Getúlio Vargas: o Poder e o Sorriso" (2006), Fausto acredita que "Celina tenha certa razão, mas não toda" ao destacar a honestidade dos políticos da era Vargas.

"Como a política chegou a um momento terrível hoje, há essa tendência em ser benevolente com o passado."

Segundo Daniel Aarão Reis, professor titular de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense, é uma "caricatura dizer que o Brasil era um país honesto e se tornou corrupto".

Primeiro, diz ele, as circunstâncias são bastante diferentes. "O capitalismo estava em outro patamar na época do Getúlio, e os processos eleitorais eram muito mais simples do que hoje."

Depois, avalia Aarão Reis, a capacidade do país de investigar atos de corrupção era muito menor nas primeiras décadas do século 20.

Ele lembra que o Ministério Público só ganhou poder efetivo de fiscalização a partir da Constituição de 1988.

ESTADO NOVO

Aarão Reis também comentou a visão positiva de Celina sobre o Estado Novo, regime ditatorial iniciado após golpe de Getúlio em 1937 e que perdurou até 1945.

A socióloga apoia sua argumentação em um trecho do capítulo "Nem Todos os Golpes se Parecem", no qual Alzira escreve: "O golpe (...) seria dado com Getúlio Vargas, sem Getúlio Vargas ou contra Getúlio Vargas. Acontece que foi dado com Getúlio Vargas. Foi melhor assim ou foi pior? Só o futuro dirá. Quanto a mim, o que sei é que para o Brasil foi o menos pior".

Aarão Reis discorda de forma veemente. "A ditadura é sempre um regime infame", diz o historiador. "Os varguistas cobrem com o manto do silêncio os horrores do Estado Novo, quando a tortura era uma política de Estado."

A argumentação de Boris Fausto segue linha semelhante. "Houve pontos positivos no Estado Novo, como o avanço da indústria de base, mas o balanço geral é mais negativo. O peso do autoritarismo é muito grave", diz.

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