Cunha põe, Cunha tira?
"Alguém tem dúvida que se não fosse minha atuação, [não] teria processo de impeachment?". A pergunta foi feita por Eduardo Cunha na sessão em que a Câmara cassaria seu mandato. A resposta era óbvia. Sem a ajuda do correntista suíço, Michel Temer nunca teria chegado à Presidência da República.
Cunha acionou a máquina que instalou o "vice decorativo" no comando do país. Pouco mais de um ano depois, ele pode virar peça-chave em outra derrubada de presidente. Preso em Curitiba, o ex-presidente da Câmara negocia um acordo de delação.
A promessa, informou a colunista Mônica Bergamo, é detonar os velhos parceiros do PMDB da Câmara. No centro da mira, está o presidente Temer. Ao lado dele, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
O correntista suíço está na cadeia há quase nove meses. Ele já se queixava de abandono, mas resistia a entregar os comparsas. Começou a mudar de ideia em março, ao receber a primeira condenação. Pegou 15 anos pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Sem um habeas corpus do Supremo, a paciência do ex-deputado foi acabando. O copo transbordou com a notícia de que o doleiro Lúcio Funaro decidiu falar. Cunha percebeu que o bonde da delação estava passando e agora corre para garantir seu lugar.
Apesar da negativa do advogado presidencial, o governo entrou na UTI com a prisão de Geddel Vieira Lima. Uma delação do correntista suíço equivaleria a desligar os aparelhos e encomendar a alma do paciente.
No século passado, Carlos Lacerda (1914-77) ganhou a alcunha de "derrubador de presidentes". Cunha se candidata a herdar o título, mesmo sem as qualidades do udenista.
A negociação deve fermentar o debate sobre as delações. Um personagem com a folha corrida do ex-deputado, envolvido em escândalos desde o governo Collor, merece ter a pena reduzida em troca de informações à Justiça? Se a lógica for chegar ao topo da quadrilha, é possível que sim.
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