Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Você prefere um cachaceiro pernambucano ou um men in black curitibano.

A batalha entre Lula e Moro não é ética, mas estética 

Gregorio Duvivier 

Ilustra Gregório

Não acho que a polarização do Brasil se dê no campo da ética. Ou entre esquerda e direita. Afinal, um lado torce pra um candidato a presidente que enriqueceu os mais pobres –mesmo que tenha enriquecido junto–, e outro torce pra um juiz que luta contra o crime –mesmo que pra isso tenha cometido crimes como grampear ilegalmente, vazar informações e frequentar shows do Capital Inicial.

Os dois veem na lei um empecilho para que se consiga chegar ao bem maior, e importa pouco se esse bem é o fim da miséria ou da impunidade, e importa mais se essa batalha vai ser regada a Fogo Paulista ou Ciroc de Baunilha.
Já que os dois heróis atropelaram a ética, o debate virou um debate estético. Você prefere um cachaceiro pernambucano ou um men in black curitibano. Chinelo de dedo e regata ou o terno preto com camisa preta e gravata prata? Barzinho ou balada? O que no fundo remete à dicotomia nietzscheana: Dioniso ou Apolo? Poesia ou prosa? Carnaval ou bossa nova? Lennon ou McCartney? Pepê ou Neném?

Queria muito torcer pro Moro, confesso. Afinal, ele tem até um bloco de carnaval liderado por Suzana Vieira, o MoroBloco. Seria meu sonho? Seria. Mas sempre tive um pé atrás por questões puramente estéticas: o look "all black" dá a impressão de que ele vai me vender um seguro de vida ao invés de me prender, e eu prefiro mil vezes que me prendam.

No entanto, no depoimento de Lula, entrou um ingrediente novo no campo da estética. Até então, os detratores da Lava Jato viam Moro como uma espécie de Darth Vader, imperador do lado negro da força, pior inimigo do mestre Yoda, baixinho de orelhas pontudas que fala por metáforas e tem dificuldades com a norma culta.

Já os fãs da Lava Jato viam Moro como uma espécie de Batman, justiceiro que combate o crime na calada da noite com métodos pouco ortodoxos.

Em ambos os casos, tanto os fãs quanto os detratores do juiz midiático imaginavam o juiz como um sujeito de voz gutural, cavernosa. Eis que Moro abre a boca e todos se perguntam –ele tá sendo dublado pela Tetê Espíndola? Ele tá de zoeira com a gente? Ele cheirou um balão de gás hélio? Há quem acredite que ele tenha perdido a credibilidade.

Meu amigo Ricardo, por exemplo: pra ele, Moro se revelou o Anderson Silva dos juízes. Tem voz fina e decepciona em confrontos com muita audiência. Discordo. Acho que ganhou carisma e embolou a batalha no campo estético. Vamos ver o que as urnas têm a dizer.

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