Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Chega de crise, hoje vamos nos divertir um pouco.

O pênis conceitual 

Helio Schwartsman 

Peter Boghossian, um dos autores do "estudo" denominado "Cogent Social Sciences"
Peter Borghossian, um dos autores do "estudo" publicado no Cogent Social Sciences


Chega de crise, hoje vamos nos divertir um pouco.

O pênis é uma construção social concebida para oprimir mulheres e outras categorias de gênero e é um dos operadores conceituais da mudança climática. Louco, não? Com certeza, mas um artigo com 3.000 palavras defendendo ideias desse quilate em linguagem empolada, que busca imitar textos pós-estruturalistas, acaba de ser publicado num periódico de ciências humanas de acesso aberto e com revisão por pares, o "Cogent Social Sciences" (CSS).

Sim, os editores da revista se deixaram apanhar num trote nos moldes do célebre caso Sokal. Os autores do chiste, Peter Boghossian e James Lindsay, procuraram reunir o máximo de pseudoargumentos que não fazem o menor sentido num só texto e o submeteram ao CSS, que o aceitou e publicou. Vale a pena reproduzir uma frase para dar o gostinho do artigo: "A hipermasculinidade tóxica extrai sua significância diretamente do pênis conceitual e se dedica a apoiar o materialismo neocapitalista, que é um dos principais operadores da mudança climática". O site da revista "Skeptic" traz uma boa reportagem sobre o caso.

É fácil creditar o vexame à falta de rigor das ciências humanas, especialmente em suas vertentes mais ideológicas como os estudos de gênero. Isso pode ser parte do problema, mas é importante lembrar que as ciências duras também têm seu estoque de fiascos. Em 2013, John Bohannon, da "Science", submeteu múltiplas versões de um artigo científico verossímil mas com erros metodológicos gritantes para 304 periódicos de acesso aberto que diziam contar com "peer review". Tudo bem que as publicações de acesso aberto não são a elite dos periódicos, mas os números assustam mesmo assim: 157 aceitaram o texto, 98 o rejeitaram e o restante não respondeu em tempo.

Talvez seja precipitado falar em crise das ciências, mas dá para falar numa crise do modelo de "journals".

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