Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 14 de maio de 2017

A gente somos inútil

A gente somos inútil

Helio Schwartsman 


Você sabe dizer como funciona a descarga do banheiro? Embora utilizemos esse equipamento mais de uma vez por dia, a maioria de nós é incapaz de explicar a física envolvida no despacho de dejetos. Não é nada muito complicado —trata-se basicamente do efeito sifão—, mas poucos de nós conseguem descrever como se dá a mágica. Coisas muito parecidas ocorrem para outros objetos cotidianos como o zíper. E nem vale a pena começar a falar de aparelhos realmente complicados como o forno de micro-ondas ou uma bomba atômica.

Sozinhos nós não apenas somos inúteis como também profundamente ignorantes. Com alguma licença poética, é essa a conclusão dos cientistas cognitivos Steven Sloman e Philip Fernbach, autores do fascinante "The Knowledge Illusion" (a ilusão do conhecimento).

Eles recorrem a exemplos e explicações evolutivas para mostrar que não estamos mentalmente equipados para guardar os detalhes de nenhum objeto ou situação individuais. Nossos cérebros só arquivam as grandes regularidades do mundo, deixando de lado particularidades. Mas, como a consciência da ignorância é imobilizante, nutrimos gostosamente a ilusão de que sabemos mais do que de fato sabemos.

Parece uma receita perfeita para o fracasso, mas nossa espécie não só não foi extinta como ainda conquistou o planeta e produz tecnologia indistinguível da mágica. Isso ocorre porque somos seres sociais. Enquanto indivíduos não sabemos quase nada, mas, como coletividade, conseguimos armazenar uma impressionante quantidade de conhecimentos, que depositamos em livros, grupos de especialistas e nos próprios objetos —você não precisa saber física para acionar a descarga.

Sloman e Fernbach, porém, não são tão otimistas. Embora seja possível avançar coletivamente, confiar cegamente nos dogmas sociais também pode nos levar a erros terríveis.

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