Os fantasmas de Temer são de carne e osso
Há fantasmas no Palácio da Alvorada? Foi o que sugeriu Michel Temer, numa tentativa de fazer graça ou ser irônico –com ele, nunca se sabe. Cada vez que o presidente abre a boca, para falar de improviso ou ler um texto preparado pelo marqueteiro de plantão, é um Deus nos acuda.
Temer justificou numa entrevista a razão de ter deixado a residência oficial do presidente e voltado, de mala e cuia, para o Palácio do Jaburu, onde moram os vices: "Senti uma coisa estranha lá. Eu não conseguia dormir, desde a primeira noite. A energia não era boa. A Marcela sentiu a mesma coisa. Só o Michelzinho, que ficava correndo de um lado para outro, gostou. Chegamos a pensar: será que tem fantasma?".
A blague não paga a recente reforma do palácio ora desabitado, a qual custou mais de R$ 20 mil. O presidente poderia ter usado o argumento de Elio Gaspari, para quem "o cartão postal de Oscar Niemeyer" é um lugar para se visitar, jamais para se viver.
Muito menos havia motivo no apelo ao macabro espectral, que, como todos sabem, é coisa séria. Ou você imagina algum fantasma digno de assombração habitando o Alvorada e, mais, puxando o pé gelado de Temer, mexendo nos perfumes e cremes da madame ou fazendo "búúú!" nos ouvidos de Michelzinho?
Poeta "modestíssimo", como ele mesmo se define, Temer faz melhor em deixar as histórias fantásticas e sobrenaturais nas mãos de escritores. Se ele quiser um curso intensivo de leitura no gênero, recomendo os relatos de Charles Dickens, Robert Louis Stevenson, Sheridan Le Fanu, Charlotte Brontë, Elizabeth Gaskell, Edith Wharton, Henry James, Bioy Casares.
Os fantasmas de Temer são bem outros. De carne e osso. Vivíssimos e espertos demais, adoram um caixa dois, uma pasta ministerial e um foro privilegiado.
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